Nesses 10 dias após o primeiro turno, várias pesquisas já foram divulgadas e, em todas elas, o resultado parece favorável ao ex-presidente Lula, com percentuais, nos votos válidos, entre 52 e 55% e entre 48 e 45% para Bolsonaro.
Porém, uma variável pode provocar mudanças nesses resultados: a abstenção!
O índice de abstenção no primeiro turno foi de 20%. Se os eleitores que não comparecerem forem proporcionais à intenção de votos em cada candidato, nada muda. Mas se os faltantes forem majoritariamente dos eleitores de um dos dois candidatos, isso pode afetar o resultado final.
Um exemplo teórico simples: o candidato Lula pode ter 52% de intenção de votos e Bolsonaro fica com 48%, com a abstenção não tendo sido considerada. No dia da votação aqueles 20% não comparecem e dali, 12% votaria em Lula e 8% em Bolsonaro.
O que acontece? Lula fica com 40% (52 – 12) e Bolsonaro também com 40% (48 – 8). Viram? Uma intenção de votos que dava uma folga de 4% pró Lula, se reduz a 0% e vira empate! Nos votos válidos 50 X 50.
Pelas estatísticas do TSE sobre abstenção, fica claro que o segmento com maior índice de abstenção é o grupo com a menor escolaridade e que é exatamente o segmento onde Lula tem o maior percentual.
Pelo menos dois institutos (Quaest e Ipespe) já estão se precavendo e incorporando metodologias que considerem a abstenção.
Como pode ser visto no quadro acima, na pesquisa da semana passada o Quaest já começou a medir e perguntar “em quem você votou no primeiro turno?” e comparar com “em quem você vai votar no segundo turno?”. No primeiro caso, aparecem 24% que não votaram, mas na segunda pergunta (no quadro abaixo) eles desaparecem e restam apenas 11 % (7 + 4) nulos e indecisos. Essa já é uma primeira pista. Aqueles mesmos 24% que disseram que não votaram, viraram apenas 11%!
Na pesquisa dessa semana a Quaest introduziu o conceito de “likely voter” que é um método para ponderar a possível abstenção e já começou a medir essa diferença. O resultado apresenta Lula com 54,5 X 45,5 de Bolsonaro sem correção, e 53 X 47 com a correção do “likely voter”. Deu pra perceber? Uma diferença de 9 pontos vira 6 pontos.
O IPESPE, com o especialista Lavareda, já vinha desconfiando que a abstenção era a responsável pela diferença entre as pesquisas e o resultado oficial do primeiro turno. Nessa rodada das pesquisas, foi introduzido o fator “Interesse pela eleição”.
A pesquisa verificou que 81% manifestavam interesse pela eleição e criou uma fórmula para “corrigir” os números considerando a pesquisa com e sem aqueles com pouco interesse, arbitrando que serão esses os ausentes no segundo turno.
Resultado:
Votos válidos considerando todos – Lula 54 X 46 de Bolsonaro; corrigindo usando a fórmula e considerando apenas os 81% com maior interesse, o resultado ficou em Lula 52 X 48!
Perceberam? Uma diferença de 8 pontos se reduziu para 4 pontos.
A abstenção pode decidir a eleição! É bom o IPEC e o Datafolha também passarem a considerar a abstenção nas suas pesquisas.
Uma última conclusão tirada da pesquisa QUAEST mais recente sobre “motivação para votar” em Lula ou Bolsonaro: 43% dos que pretendem votar em Lula dizem que o motivo é tirar Bolsonaro e 47% dos que dizem que vão votar em Bolsonaro dizem que a motivação é evitar o retorno de Lula! Fazendo as contas e somando, vemos que 40% do total votam contra o outro e certamente poderiam ter votado em uma terceira opção! Chance perdida!
– Paulo Milet, é empresário, formado em Matemática/UnB com Pós em Adm. Pública/ FGV