Não cairei na areia movediça dos ataques aos principais protagonistas das eleições. O foco permanece na realização grandiosa de um feito histórico. Um espetáculo de cidadania.
São quase seis mil municípios e em cada um deles dezenas, centenas ou milhares de urnas, caso das grandes cidades. Sempre haverá erros, problemas, quebra quebra, furto de urnas, prisões. Para isso milhões de fiscais preparados exerceram o civismo, trabalhando. Trabalho primoroso também das forças de segurança e dos cidadãos. O Brasil conheceu uma votação ordeira, absolutamente organizada por profissionais de alto padrão. Exemplo para todo o mundo. Orgulho imenso. Um golaço do Estado de direito.
Por favor, sem mi mi mi. Se Bolsonaro tivesse ganho, bolsonaristas estariam bem quietinhos, comemorando. Ademais, Bolsonaro surpreendeu com votação excepcional formando a mais forte bancada nas casas do Congresso nacional.
Os institutos de pesquisa e jornalistas vão reconhecendo que a paixão embota o trabalho técnico e isento quando desejo e realidade são vividos como sinônimos. A Globo e o Datafolha? Exemplos da desmoralização da estatística e da boa mídia
Agora, bolsonions mais fundamentalistas, recusam-se, cinicamente, a cair na real. Não levaram no primeiro turno, como alardeado histericamente. As Forças Armadas avalizaram os procedimentos, honrando a Constituição.
O voto é único e igual. Não há valoração e conclusões maldosas sobre a escolha dos letrados e dos iletrados, do candidato com diploma ou sem diploma. Santa Catarina e o Sul preferem Bolsonaro e o Norte e Nordeste, Lula. Este e o atual presidente, ambos, encontram apoiadores em todas as classes. São lideranças fortíssimas com respaldo popular. Negar isso é um sintoma de dificuldade narcísica de ver o mundo e o Outro como diferença. E a democracia, com todos os defeitos, como organização – de instituições e de atores-, é necessária como filtro e resolução de conflitos. Sem ela tiranias retornam.
Ser democrata para parte da classe média baixa e média, mas também para todas as elites ensimesmadas em bolhas e privilégios, é um exercício doloroso. Os ventos da mudança, sejam eles da direita e ou da esquerda, sopram como perigo iminente. Afinal, temos uma sociedade paradoxal, marcada por 0,5% cento de brasileiros com 28,3% da riqueza (1% detém aproximadamente 50%), e o resto em condições de cidadania inferior, para dizer pouco. 90% dos nossos compatriotas vivem com até R$ 3.500,00 por mês. A décima economia do mundo com uma distribuição de renda vergonhosa (87ª posição mundial no IDH).
O Brasil dará certo, seja lá quem vencer. Normal o desconforto dos medrosos. Vivemos um tempo sombrio de inseguranças. O mercado e a democracia liberal estão em processo de divórcio. Nesse ambiente inóspito, indivíduos e grupos criam inimigos em tudo e em todos. Mecanismo conhecido da busca de nossos bodes. Daí a política reduz-se a confronto de ressentimentos e vontade de eliminar os inimigos (vermes…). Um caso de desordem psíquica. Ela não reside numa dada ideologia, mas atravessa toda a cultura e todas as classes. Sair desse impasse exige um esforço continuado de diálogo, tolerância, exercício civilizado da divergência. Um desafio hercúleo.
Foram quatro séculos de escravismo. Pensem nisso. Estruturas coloniais povoam nosso pensamento autoritário, ainda racista, preconceituoso, mesmo golpista. Se temos problemas? Aos montes. Lulopetistas fundamentalistas existem. Sempre há os pouco modestos proprietários da razão histórica. Dificuldades abismais de autocrítica. Militantes que tomam adversários como inimigos. Extremos se amam.
Mas o certo é que estamos de parabéns. O pleito do dia 02 de outubro de 2022 foi um sucesso.
Viva o Brasil. Vencerá o melhor. Nosso futuro Presidente, seja qual for. Bolsonaro chegou ao poder pelo voto. Poderá permanecer ou sair. É o jogo. Tudo certo. E Lula renasceu, como Fênix, das cinzas. Uma tapa na cara dos seus algozes. Um recado nas urnas.
O Brasil caminha sem ceder ao obscurantismo. Diz o ditado: “quem tropeça mas não cai anda mais rápido”. Oxalá!
– Edmundo Lima de Arruda Jr