A “Turma do Pererê” foi a primeira revista de quadrinhos colorida inteiramente brasileira. Até o ano de 1959 era somente uma tira ilustrativa nas páginas da semanal O Cruzeiro, a principal publicação do país durante anos. O cartunista Ziraldo, seu criador, resolveu recontar com desenho as histórias vividas com seus amigos de infância em sua cidade natal, Caratinga, no Leste de Minas, e levá-las às bancas.
Foi um sucesso. A “Turma do Pererê” chegou a vender mensalmente 120 mil exemplares. Contava as refregas entre benfeitores e malfeitores na longínqua e imaginária Mata do Fundão. Mas, em 1964, foi retirada de circulação, por ser considerada “ideologicamente ameaçadora à democracia” pelo regime militar que comandava o Brasil à época.
Anos depois, com o País redemocratizado, uma editora de São Paulo fez um novo lançamento, dessa vez como álbunm de figurinhas colantes, mas o sucesso não se repetiu. Em 1998, ganhou uma série de 20 episódios na tevê, dirigida por André Alves Pinto, filho de Ziraldo.
Em 1980, o Brasil vivia tempos de abertura democrática, no início do governo João Figueiredo. Depois da época em que todos os jornais e revistas, tevês e rádios, cinema, teatro e as obras de artes eram censurados. Aproveitando o momento que prenunciava maior liberdade, Ziraldo teve a ideia de reunir no Hotel Nacional, em Brasília, aqueles dez amigos. Queria possibilitar um reencontro dos personagens reais de sua própria vida, transportados para mundo da fantasia em forma de revista.
É claro que um acontecimento como esse naquele momento chamava a atenção dos jornalistas, acostumados a noticiar basicamente os rotineiros assuntos do poder. Assim como eu, outros repórtres e fotógrafos também foram pautados para cobrir o fato. No salão da festa estavam quase todos os personagens de Ziraldo: o moleque Pererê, inspirado no personagem famoso de Monteiro Lobato.
Também o índio Tininim, o macado Alan e o coelho Geraldinho. E ainda, Galileu, a onça. Também o jabuti Moacir, os caçadores Tonico e Seu Neném, Mãe Docelina, o professor “Nogueira” e a Boneca-de-Pixe, namorada do pretinho de uma perna só. Por mais que fosse uma cena sem grandes apelos visuais, não perdi a oportunidade de fazer foto tão rara, a Turma do Pererê reunida.