As pesquisas eleitorais para a presidência da República mais recentes, divulgadas nos últimos dias – DataFolha e Ipec -, feitas após o 7 de setembro, parecem ter dado um choque de realidade no presidente Jair Bolsonaro. Além de não ter crescido o esperado, ele ainda manteve uma taxa de rejeição elevada, mais de 50%. Já o antipetismo, que os bolsonaristas esperavam que crescesse com o início da propaganda eleitoral no rádio e na TV, não vingou.
Não foi à toa que, em entrevista a um pool de podcasts evangélicos, Bolsonaro apareceu mais contido chegando, inclusive, a manifestar arrependimento – parcial, claro – por algumas falas durante a pandemia. Como de costume, acusou a mídia de provocá-lo, mas disse que “deu uma aloprada e perdeu a linha”. Não chegou a pedir desculpas à população, sobretudo às famílias que perderam seus entes queridos, mas já foi um avanço.
Talvez tenha se dado conta que seu comportamento desrespeitoso durante a pandemia da covid-19, que tirou a vida de quase 700 mil brasileiros, seja um dos fatores de sua alta rejeição. A conta chega, e chegou em forma não votos ou em votos nos adversários. Difícil acreditar nesse arrependimento repentino e a três semanas da eleição. O presidente nunca lamentou nenhum óbito sequer, nem mesmo de grandes nomes da cultura brasileira. Teve inúmeras chances de se redimir perante à população. Não fez. Agora quer posar de bom moço.
A entrevista aos influencers cristãos, que durou mais de cinco horas, certamente produziu um bom material de campanha. Tanto que virou o assunto do dia entre os principais comentaristas políticos. Talvez seja a última cartada do presidente para reverter a diferença em relação a Lula, cada vez mais próximo de garantir a vitória já no primeiro turno, tendo em vista que Ciro Gomes e Simone Tebet continuam muito atrás.
Afinal, as apostas anteriores não surtiram o efeito esperado por Bolsonaro e sua equipe. A redução do preço dos combustíveis, o Auxílio Brasil turbinado, o orçamento secreto para garantir o apoio de deputados em seus currais eleitorais e, por fim, o 7 de setembro, tudo flopou. Resta agora ao presidente parecer menos belicoso.
Bolsonaro aproveitou a oportunidade também para acenar aos eleitores que não desejam a volta do PT, mas temem um golpe por parte do presidente e sua tropa de militares de pijama. “Se não for a gente passa a faixa e vou me recolher porque com a minha idade a gente não tem mais nada a fazer aqui na terra, se acabar a minha passagem pela política em 31 de dezembro do corrente ano”, disse de forma contrita.
É pode até ser que ele aceite a derrota pacificamente, mas como diz o velho ditado: quem não te conhece que te compre!