Sete de setembro. Há duzentos anos, dois séculos, o grito que atravessa a história do Brasil: independência ou morte!
Iniciamos em 1822 o nosso processo emancipatório. A História nos ensina que os acontecimentos históricos têm antecedentes e desdobramentos. Não acontecem de uma vez.
É um processo.
Celebramos também em 2022 o Centenário da Semana da Arte Moderna. Avançamos muito na nossa cidadania cultural. A cultura e a arte nacionais afirmam a nossa identidade. Ela se manifesta, sobretudo, na nossa música. Marca forte presença também na nossa literatura, nas nossas artes plásticas – pintura, escultura, desenho, fotografia; na nossa historiografia – temos hoje uma história nacional brasileira bem contada e refletida. A nossa cultura artística manifesta-se no cinema – lembremos o cinema novo; no teatro, na dança. Marca rigorosa presença em manifestações artísticas e culturais que integram essas variadas dimensões. Podemos falar também com orgulho da nossa arquitetura, dos nossos projetos e realizações urbanísticas.
Avançamos no campo dos conhecimentos científicos, das reflexões filosóficas e teológicas, das ciências sociais e humanas.
Abrimos novos horizontes com a ascensão dos movimentos sociais, das lutas e conquistas democráticas e dos direitos humanos. Vivemos a belíssima experiência do processo constituinte que nos levou à Constituição cidadã de 05 de outubro de 1988.
Vivemos hoje a presença crescente – fruto de lutas históricas – das mulheres, dos negros, dos indígenas, das comunidades LGBTQIA+, dos jovens, dos pobres. Muitos temos ainda a fazer e conquistar nesses espaços de cidadania e de efetiva participação política. Estamos caminhando, mesmo com os retrocessos, como o que vivemos sob o atual desgoverno federal.
A pergunta que se coloca com mais força, dois séculos depois, incide sobre a nossa independência econômica e social. Somos neste campo um país independente? Afirmamos a nossa soberania nacional e popular presente na nossa Constituição?
As riquezas do nosso solo e subsolo, da nossa belíssima natureza e a capacidade criativa da nossa gente estão a serviço da nossa soberania, do projeto nacional brasileiro?
País independente e soberano é aquele que cuida, em primeiro lugar, do seu povo, garantindo-lhe, sem discriminações, o acesso e o exercício dos direitos fundamentais. Não afronta a nossa independência e a nossa soberania a fome que assola milhões de brasileiras e brasileiros?
A mesma afronta não incide também sobre as nossas crianças e os nossos jovens impossibilitados de terem acesso às dimensões mais alargadas do conhecimento e do saber, da educação de qualidade? Sobre milhões de trabalhadoras e trabalhadores sem emprego ou com salários miseráveis que afrontam a dignidade humana?
Tantos desafios mais que se colocam à plena afirmação da nossa independência, a independência do povo brasileiro: moradias dignas, trabalho decente, cidades mais humanas e convivenciais, meio ambiente saudável e preservação das vidas.
Penso que no bicentenário de nossa independência devemos refletir sobre a pátria brasileira que queremos e merecemos. Pensarmos em nós, nas gerações presentes, nos nossos direitos e deveres, mas expressarmos também o nosso compromisso com as gerações futuras, com as meninas e os meninos que estão a caminho, para que, como é o desejo de Jesus de Nazaré, “todos tenha vida e a tenham em abundância”.
Que seja agora o nosso grito: independência e vida!
– Patrus Ananias é Deputado Federal PT/MG