Incríveis eleições

Os fundos partidário e eleitoral tinham que acabar. Candidatos e partidos deveriam arrumar seus próprios patrocinadores, vender seus bens e pagar pelas suas campanhas.

Lula, Bolsonaro e Ciro

A eleição está chegando em sua reta final e, infelizmente, com o mesmo quadro polarizado que se apresentou no final do ano passado. A chamada terceira via não empolgou. Ciro Gomes não cresceu o esperado. Assim, Lula e Bolsonaro, duas péssimas opções, seguem nadando de braçada na campanha, que continua desinteressante. O presidente, como sempre, criando confusão em torno da urna eletrônica, um orgulho do nosso país. Desconfia da sua segurança e, à medida que cresce a possibilidade da derrota para o petista, aumentam os ataques contra o sistema eleitoral sem quaisquer provas, a mesma malandragem de Donald Trump.

Jânio Quadros renuncia à presidência da República, em agosto de 1961

Talvez por tantos desencantos, os brasileiros se conformaram com situações desoladoras como a que vivemos. Há anos sofremos por eleger os representantes errados, antes mesmo do Golpe Militar de 64. Em 1960,  colocamos no poder um maluquete chamado Jânio Quadros. Na campanha apareceu como solução para os nossos problemas, mas depois de eleito chutou o governo, tomou três doses de whisky e se mandou para Londres a bordo de um cargueiro.

Não é apenas a falta de bons nomes que provoca essa inércia política. A legislação autoritária  também desagrada o eleitor, sobretudo com relação à enfadonha campanha eleitoral do rádio e televisão. Por causa dela, somos obrigados a aturar um desfile tosco dos aspirantes a deputados, senadores, governadores e presidentes, sempre com falsas promessas. Fica claro que parte deles ou é despreparada ou mal-intencionada. Alguns até já passaram um tempo na cadeia.

Também desagrada ao eleitor saber que tudo isso está sendo bancado com o nosso suado dinheiro. Uma verba vultuosa é retirada dos cofres públicos com destino aos partidos políticos e suas lideranças para bancar os Fundos Eleitoral e Partidário. Um absurdo em um país tão carente de políticas públicas que atendam aos milhares de famintos que cruzamos pelas ruas todos os dias.

A verba pública destinada às campanhas políticas deveria ser extinta, aliás, nunca deveria ter sido aprovada. Nenhum partido merece essa colaboração forçada de recursos públicos. Somente para a campanha deste ano os partidos vão receber  absurdos $ 4,9 bi, valor três vezes maior do que é destinado à educação básica, que é de apenas R$ 1,65 bi.

Se fossemos um país realmente preocupado com o social, candidatos e partidos deveriam arrumar seus próprios patrocinadores, vender seus bens e pagar pelas suas campanhas. E não tirar dos cofres públicos.

Por tudo isso, entendo que a reforma politica é uma necessidade urgente, talvez a mais importante das reformas. Mais que a administrativa e a tributária juntas. É por ela que vamos conseguir mudar esse estado de coisas. Lamentavelmente, se não houver pressão por parte da população, jamais teremos mudanças verdadeiras, apenas maquiagens. Afinal, não faz parte das prioridades de suas excelências mudanças que não os beneficiem.

A única ressalva que faço em relação às urnas eletrônicas é o fato de termos perdido o direito ao voto de protesto, além do nulo e branco, como existia antigamente.

A rinoceronte Cacareco, eleita vereadora em São Paulo

Para quem não lembra, em 1959 a rinoceronte Cacareco recebeu 100 mil votos dos paulistanos para uma cadeira na Câmara Municipal. Uma enorme manifestação de revolta por parte da sociedade, que já naquela época não estava satisfeita com a qualidade dos nossos representantes.

Pena que ela (apesar do nome Cacareco era uma rinoceronte fêmea) mesmo tendo sido eleita, não tenha tido direito de assumir o cargo. Com toda certeza teria sido uma boa legisladora, defensora do meio ambiente, melhor que muitos dos que assumiram. E o melhor: não se corromperia.

 

– José Fonseca Filho é jornalista

Deixe seu comentário