Lula venceu o JN

Ex-presidente Lula durante entrevista ao Jornal Nacional - Foto Reprodução G1

Ufa! A palavra não foi pronunciada, mas estava estampada na fisionomia não só de Luiz Inácio da Silva, mas também nas de William Bonner e Renata Vasconcellos ao final dos 40 minutos de entrevista ao Jornal Nacional nesta quinta. O semblante tenso do ex-presidente no início do programa, que começou com uma ofensiva de Bonner sobre corrupção, foi substituído, ao final,  por um meio sorriso e o oferecimento do ex-presidente de, se eleito, ir “todo mês” ao JN.

Lula depõe perante Moro no processo de Atibaia.

Talvez Lula nunca tenha falado tanto sobre corrupção, petrolão, mensalão e  Lava Jato, mas apresentou uma narrativa coerente, em que não negou a existência da corrupção mas lembrou que tudo isso foi descoberto graças a leis e mecanismos de apuração criados nos governos do PT. Não precisou se estender muito sobre a perseguição política que sofreu por parte do ex-juiz Sergio Moro – e o fato de o STF tê-lo declarado parcial foi lembrado pelo próprio Bonner na pergunta, na qual disse que o petista não deve nada à Justiça.

Dilma Rousseff

Na prática, o tom “pega, mata e esfola” dos entrevistadores parece ter ficado abaixo do que previam o ex-presidente e sua equipe. Bonner e Renata foram previsíveis nos assuntos – corrupção, economia no governo Dilma Rousseff e relações com o Centrão, por exemplo – mas respeitosos nas abordagens. Também eles pareciam aliviados por não ter levado nenhuma resposta atravessada de Lula – nem eles e nem a TV Globo.

Os entrevistadores do JN mostraram até certo despreparo em perguntas sobre MST e a resistência de correntes do PT à indicação de Geraldo Alckmin para a vice, por exemplo. Ambos são problemas superados e pouco relevante hoje no entorno de Lula. Além de dizer que o MST de hoje não tem nada a ver com oi de 30 anos atrás, o petista aproveitou para citar mais uma vez seu vice e observar:  “Ô, Bonner, acho que não estamos vivendo no mesmo mundo”.

Geraldo Alckmin – Foto Orlando Brito

Ao longo dos 40 minutos, Alckmin – que estava nos bastidores do estúdio – foi citado por Lula ao menos meia dúzia de vezes, como uma espécie de troféu e a promessa de que vão “governar juntos”.

Atos do atual presidente foram inseridos  e criticados onde coubesse na narrativa, destacando-se o momento em que, ao justificar a união dos divergentes para enfrentar os antagônicos, o petista disse que travavam hoje uma luta contra o fascismo e a extrema direita. Bolsonaro foi ainda chamado de “bobo da corte” por Lula nos comentários sobre Centrão e orçamento secreto.

Auxílio Brasil – Foto Divulgação/Ministério da Cidadania

O ex-presidente aproveitou para dizer que o atual não enviou previsão orçamentária para dar continuidade aos pagamentos de R$ 600 dos Auxílio Brasil depois de dezembro. Foi curto o tempo para falar mais desse assunto e de outros relativos à fome e condições de vida do povo. Nas palavras finais, as promessas de renegociar as dívidas das famílias e investir muito na educação.

Como costumamos dizer aqui, ninguém ganha nem perde eleição no Jornal Nacional, mas ele pode atrapalhar bastante. Na noite desta quinta-feira, vimos um entrevistado que respondeu à altura perguntas duras, mas não ofensivas. Lula venceu o JN.

 

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