É preciso saber surfar a onda Lula

Lula - Foto Ricardo Stuckert/Divulgação PT
Encontro com chefes de missão diplomática – Foto Clauber Cleber Caetano/PR

Assim como o curso dos rios que desaguam no mar, o movimento de boa parte das forças políticas, a 60 dias das eleições, converge para quem elas acham que vai ganhar. O ex-presidente Lula vem se beneficiando dessa expectativa, sobretudo depois que Jair Bolsonaro deu um tiro de canhão no pé na reunião com os embaixadores – que, ao fim de ao cabo, foi o gatilho para o desembarque do establishment econômico-financeiro de sua candidatura.

Deputado André Janones (Avante) – Foto Reprodução

Mas, diz o velho ensinamento, eleição não se ganha de véspera. O conjunto da obra das pesquisas da semana passada, a desistência de Luciano Bivar – ainda que o seu União não vá apoiar o petista – e a possível renúncia de Andrê Janones (Avante) reforçam o clima de vitória que cerca o ex-presidente, mas é preciso surfar essa onda para chegar à praia.

Antes de tudo, a campanha de Lula deve evitar o salto alto, que é aquele estado de espírito que leva o corpo da militância a amolecer e, sobretudo, os políticos a fazerem bobagens. A primeira delas é sempre a arrogância e o discurso do “já ganhou”, que podem dar à hipótese de haver segundo turno – no qual o petista teria também larga vantagem – um ar de derrota. É preciso cuidado na narrativa.

Senador Romário – Foto Divulgação/HBO/Estadão

Outro ponto fraco é o cotovelaço entre aliados, que vislumbram a chance de chegar ao poder e competem entre si. Brigas internas, como as que se vêem hoje no Rio e no Ceará, abrem flancos para o adversário. Enquanto André Ceciliano (PT) e Alessandro Molon (PSB) brigam pelo Senado, o bolsonarista Romário vai levando vantagem.

Lula fiou numa sinuca de bico no Rio de Janeiro: se ficar na candidatura Marcelo Freixo sem a desistência de Molon, o bicho pega junto aos petistas; se correr para Rodrigo Neves (PDT) e abandonar o candidato do PSB, será comido pelo bicho da deslealdade.

André Ceciliano (PT) – Foto Facebook

Tem que encontrar uma saída que não enfraqueça seu palanque junto ao terceiro maior eleitorado do país, fundamental para abreviar o desfecho da eleição no primeiro turno. Talvez a solução seja manter o apoio ao candidato a governador e liberar Ceciliano para fazer campanha ao Senado junto com Neves, ignorando Molon.

Elmano de Freitas (PT) – Foto Facebook

No Ceará, onde reuniu uma multidão no último sábado, Lula tenta turbinar um recém escolhido Elmano de Freitas (PT), depois de Ciro Gomes ter rompido a aliança PT-PDT e escolhido Roberto Claudio como candidato, puxando o tapete da governadora Isolda Cela. Tenta, com isso, evitar que o bolsonarista Capitão Wagner cresça ainda mais com a divisão do campo progressista.

De saltos-altos a vida está cheia, e são muitas as armadilhas que esperam um candidato com pinta de vitorioso em cada esquina. Lula parece bem consciente de que pragmatismo e humildade para buscar acordos são ferramentas essenciais para quem está na frente. Mas precisa convencer disso os aliados que colocam projetos particulares à frente do objetivo maior de vencer num primeiro turno.

 

 

Deixe seu comentário