Tivesse Bolsonaro um mínimo de inteligência ou bom senso, certamente teria evitado todo desgaste que vem enfrentando desde segunda-feira, dentro e fora do país, depois daquela patacoada de reunir no Palácio da Alvorada algumas dezenas de embaixadores dos quatro cantos do mundo para enxovalhar o Brasil. As pancadas vieram de todos os lados: instituições, associações e, principalmente, dos países aliados, que reforçaram a confiança nas urnas eletrônicas e no sistema eleitoral brasileiro.
O próprio staff do presidente reconhece que foi um erro, tanto que já arrumou um bode expiatório em quem por a culpa. A vítima da hora é o coronel Mauro César Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro.
O TSE, principal alvo dos ataques do presidente, ao contrário, vem recebendo apoio de todos os lados. A questão é: o que Bolsonaro pretende com após esse episódio? Incitar os seguidores fanáticos a recusar os resultados das urnas em caso de derrota? O presidente vai continuar em guerra contra à Justiça Eleitoral? Quem conhece o capitão garante que sim, principalmente a partir do dia 16 de agosto, quando o ministro Alexandre de Moraes assume a presidência da Corte, em substituição ao ministro Edson Fachin.
É fato que alguns ministros são alvos constantes de ataques por parte dos fanáticos bolsonaristas nas redes sociais, principalmente Luís Roberto Barroso, Fachin, Carmem Lúcia e Alexandre de Moraes, este último o mais odiado. E não é pra menos.
Moraes tem sido implacável nas investigações sobre fake news e a ameaças ao Supremo. Tem sido duro contra denúncias que envolvam o presidente ou seus aliados. Foi dele a liminar que suspendeu o decreto de nomeação e a posse do delegado Alexandre Ramagem como diretor-geral da Polícia Federal, em abril de 2020, após denuncias feitas pelo ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, de que Bolsonaro queria interferir na PF para proteger amigos e familiares.
Moraes é o relator do inquérito aberto pelo Supremo para investigar ameaças aos integrantes do tribunal, criado na presidência de Dias Toffoli. É dele a determinação para prender o deputado bolsonarista Daniel Silveira, após postar vídeo em suas redes sociais ameaçando ministros do Supremo. Assim como é da sua lavra a decisão de mandar trancafiar outros tantos aliados do presidente, como a Sara Winter, Oswaldo Eustáquio, Zé Trovão e Allan dos Santos.
Embora tenha afirmado que pretende atuar para diminuir os atritos com o presidente da República, Moraes já anunciou que não vai tolerar fake news, tampouco os questionamentos em relação ao sistema eleitoral. Não por acaso a resolução do TSE que regulamenta a propaganda eleitoral, incluiu, em 2021, o Artigo 9-A, que prevê sanções de multas até a cassação do mandato de quem disseminar o que define como “desinformação”, ou notícias falsas, de forma dolosa e com objetivo de estimular a violência social, especificamente com a recusa dos resultados.
O futuro presidente do TSE também tem buscado fórmulas para impedir que os processos sobre propaganda irregular caiam nas mãos do ministro Nunes Marques, que vai atuar como ministro substituto do TSE durante as eleições. A colunista Malu Gaspar, de O Globo, revela que já está sendo preparada uma manobra para que os processos continuem sendo julgados pela ministra Carmem Lúcia, também do Supremo, ou pelo ministro Paulo de Tarso Vieira Sanseverino, do STJ.
Pelo mau humor que demonstrou durante o jogo do Flamengo contra o Juventude no estádio Mané Garrincha, na última quarta-feira, registrado pelo jornalista Rodrigo Rangel, do Metrópoles, certamente Bolsonaro sabe que a guerra tá longe de acabar e mais: que suas chances de vencer a parada contra as urnas são cada vez menores.
A conferir