Não havia a menor necessidade de enfrentar agora, nesse delicado momento político, qualquer reforma no ensino médio. Até porque, por pior que seja o currículo, sabemos todos que não são as matérias chatas e sem interesse que afastam os alunos da escola. É a crise, a perda do emprego de pessoas da família, a necessidade de trabalhar, a precariedade das escolas sem professores, o dinheiro curto para a passagem, a falta de segurança para ir e vir da escola e outros tantos motivos mais dramáticos que afastam os jovens do ensino médio.
Não deixa de ser louvável que as autoridades queiram aprimorar o currículo, mas a iniciativa anunciada nesta quinta com pompa e circunstância no Palácio do Planalto corre o risco de se tornar mais um tiro no pé do governo Temer. Pior de tudo, desnecessário. Pior ainda, feito por medida provisória, que passa a ideia de uma decisão unilateral, autocrática, sem consulta aos interessados.
Obviamente, não se age assim com questões que afetam a vida das pessoas, sobretudo dos jovens. O governador Geraldo Alckmin que o diga, com sua amarga experiência na tentativa de reforma escolar em São Paulo. Diante da reação dos estudantes, que invadiram as escolas, teve que desistir.
É bem possível que o recuo – mais um – seja o destino da reforma curricular de Temer. Aliás, ontem à noite já havia nota do MEC esclarecendo que artes, filosofia, sociologia e educação física não haviam sido cortadas do currículo – apenas deixarão de ser obrigatórias.
A sexta-feira amanheceu com as Internets bombando a revolta dos jovens, movimentos sociais e setores ligados ao ensino, uma turma que não deveria ser cutucada a esta altura. O governo não precisava de mais essa para mostrar sua capacidade de atravessar a rua para pisar em casca de banana.