Mantidos os números registrados nas últimas rodadas de pesquisa – o que pode ou não acontecer -, há uma possibilidade real de vitória do ex-presidente Lula em primeiro turno nas eleições de outubro. Basta um empurrãozinho. Já se deflagra, entre apoiadores, uma campanha pelo voto útil, tendo como foco sobretudo os eleitores de Ciro Gomes, a fim de se evitar mais um mês de uma campanha que promete muito desgaste e baixaria.
Tudo muito bem, tudo muito bom. Quem não quer vencer no primeiro turno? Mas Lula e seus articuladores mais próximos não falam e nem devem falar do assunto, deixando esse discurso para setores da sociedade e aliados políticos. Sabe que campanha pelo voto útil a mais de quatro meses da eleição é lote na lua, e se não for bem feita pode ter até efeito negativo.
Antes de tudo, o PT corre o risco de ser acusado de subir no salto alto se começar a trabalhar publicamente com a hipótese nesse momento. Pior ainda, se criar essa expectativa entre os eleitores e, na hora do voto, morrer na praia. O segundo turno – normal na grande maioria das eleições brasileiras, inclusive do próprio Lula – acabaria tendo um significado de derrota, o que seria péssimo na disputa com Jair Bolsonaro ou qualquer outro.
Além disso, articuladores da campanha de Lula avaliam que é preciso, na operação primeiro turno, evitar ferir suscetibilidades na campanha de Ciro Gomes, especialmente entre seus eleitores. A segunda opção dos simpatizantes de Ciro é Lula – e esse pessoal virá naturalmente no segundo turno ou, quem sabe, até na reta final do primeiro, quando perceber que seu candidato não cresceu e não tem chances de ir para a segunda rodada.
Entrar ostensivamente de sola no momento sobre o PDT, seus dirigentes e eleitores, poderia passar a ideia de arrogância e desrespeito político. Melhor ir mantendo boas relações com Carlos Lupi e as bancadas do partido – já que com Ciro isso é impossível – e voltar a conversar lá na frente.
A possível eleição no primeiro turno pode passr também pelos caminhos do centro e da centro-direita. Nesse caso, o PT e seus aliados terão que engolir alianças que desagradam alguns aliados – por exemplo, com o MDB de Michel Temer – , mas que podem dar cara de frente à candidatura Lula e representar aquele diferencial para ganhar na primeira rodada. Não exatamente pelos votos que esse pessoal traz, mas pelo simbolismo junto a setores mais conservadores da sociedade, ainda hesitantes em relação ao petista.
A articulação para liquidar a fatura no primeiro turno existe, sim, e é fundamental. Virá impulsionada pela própria lógica do eleitor, mas tem ser na hora certa. Por enquanto, vai sendo tocada à base de cautela e caldo de galinha.