O projeto que criminaliza o caixa 2 para anistiar todo mundo que tenha cometido o crime até a edição da lei foi parar ontem no plenário da Câmara como filho feio sem pai nem mãe. Ninguém assumiu sua autoria, relatoria ou defesa e acabou sendo retirado da pauta com a reação de deputados do PSOL e da Rede. Mas que ninguém se engane: a maioria dos deputados, ainda que sem coragem de assumir, quer, sim, aprovar a proposta. E ela voltará ao plenário.
A estratégia de aprovar a proposta na calada da noite, vapt-vupt, fracassou porque a mídia descobriu. Aliada aos investigadores da Lava Jato, boa parte da imprensa fará marcação cerrada a partir de agora, carimbando o projeto como resultado de um “acordão” para salvar a maioria dos políticos acusados.
A ideia é essa mesmo, e abrange bem mais do que os nomes de deputados e senadores até agora investigados na Lava Jato – mais de 50. Há indícios de que as novas delações ainda sendo negociadas ampliam o número de políticos que receberam recursos de empreiteiras no caixa 2 – que garantem não ser propinas – para algo em torno de três centenas. Esses políticos estariam democraticamente distribuídos por quase todos os partidos e candidaturas, tendo à frente, além do PT de Lula e Dilma, o PMDB de Temer e o PSDB de Aécio, Serra e Alckmin.
Quando se fala em anistia para o caixa 2 não está se falando apenas de pé rapados da política, mas dos principais nomes dos principais partidos, do que se chama establishment político. É por isso que, de uma forma ou de outra, o assunto voltará à pauta, ainda que represente desgaste junto à opinião pública.
A esta altura do campeonato, vai ser difícil fazer isso sem debate ou exposição. A estratégia de votação terá que ser outra, quem sabe em outro projeto, talvez de iniciativa do Senado. O certo é que a anistia ao caixa 2 terá que ser discutida às claras, embrulhada em outra narrativa. E alguém vai ter que assumir sua autoria e mostrar a cara.