O casamento de interesse entre o bolsonarismo e o Centrão produziu bem mais do que apoio político-parlamentar para o atual governo. Gerou uma ninhada de casos de corrupção, num espetáculo sem precedentes de uso escancarado da máquina do Executivo em negócios particulares e crimes contra o erário.
Dos pastores do MEC que, enquanto cobravam propinas de prefeituras, foram 35 (!) vezes ao Planalto de Jair Bolsonaro, à mudança de vocação da Codevasf, que agora parece não ter mais como missão central as obras de irrigação no vale do São Francisco, há uma coleção de fraudes para todos os gostos, envolvendo quase sempre a fauna palaciana e os líderes do centrão.
Nesse último caso, o que envolve a troca das obras de irrigação pelo asfaltamento de redutos políticos de aliados, quase tudo vai desembocar no presidente da Câmara, Arthur Lira, que controle os R$ 16 bilhões das emendas secretas do orçamento. Também tem a digital de Lira a compra, com recursos do FNDE – que também virou território do centrão – de kits de robótica aparentemente superfaturados para escolas sem internet e até sem água encanada.
Essa filharada, que começa a ser conhecida, pode até ajudar os líderes do centrão a se eleger, mas já há dúvidas sobre seus efeitos na campanha de reeleição de Bolsonaro. Acendeu-se uma luz vermelha no Planalto, que busca afastar o presidente da República dessa agenda de corrupção – um tema que pretendiam usar para agredir o adversário.
A esta altura, os planos se inverteram. Com a Lava Jato desmoralizada e o ex-presidente Lula com suas sentenças anuladas, quem vai ter que enfrentar o tema corrupção é Bolsonaro. O debate da semana é sobre o impacto disso em sua candidatura, e especialistas em pesquisas já apontam prejuízos com a perda do discurso anticorrupção.