Na ótica maluca dos cegos pelo bolsonarismo, quem roubou em governos petistas merece salvo conduto para assaltar agora, sob a nova gestão, os cofres públicos. Assim, fingem ignorar os escândalos que pipocam na Educação, na Saúde, em empresas estatais e outros órgãos do governo federal.
Como o PT, o bolsonarismo também não faz autocrítica. Os petistas até hoje não deram uma explicação crível sobre os comprovados mega roubos no Mensalão e no Petrolão. Mas a galera do Centrão, seus parceiros nessas maracutaias, em vez de pagar a conta, aperfeiçoou o ataque aos cofres públicos.
Assim foi criado, por exemplo, o bilionário Orçamento Secreto, uma aberração em que R$16 bilhões dos nossos impostos somem em um duto secreto e reaparecem em obras reais ou fictícias de interesse de deputados e senadores, com os esquemas de sempre com empreiteiras. Por exemplo, a construtora Engefort, uma empresa de Imperatriz, no interior do Maranhão, que até o governo Bolsonaro não havia recebido sequer um tostão de verba federal. No ano passado, ela recebeu R$ 396 milhões, dos quais 272,3 milhões do tal Orçamento Secreto. Boa parte vindo da Codevasf, um dos feudos do Centrão na gestão Bolsonaro. O Tribunal de Contas da União está investigando.
Quando o escândalo pipoca, Bolsonaro faz de conta que não é com ele e o ministro Ciro Nogueira, na maior de cara de pau, qualifica como “corrupção virtual”, uma tentativa de generalizar os assaltos que foram mal sucedidos apenas por terem sido flagrados. Como chefão do PP, partido protagonista dos grandes malfeitos nas últimas décadas, Ciro e seus parceiros estão nadando de braçada depois de receberem um molho de chaves de cofres públicos.
Ciro Nogueira é o padrinho político de Marcelo Lopes da Ponte, presidente do bilionário Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, cujas verbas estavam sendo negociadas com prefeitos pelos pastores Ariton Moura e Gilmar Santos em múltiplas moedas como dinheiro vivo, ouro, depósitos bancários, compra de bíblias…
Em uma conversa gravada, o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, aquele que Bolsonaro prometia botar a cara no fogo uma semana antes de demiti-lo, contou que estava dando prioridade a recursos negociados pelos pastores lobistas a pedido do presidente da República. Nessas circunstâncias, qualquer governo com um mínimo de transparência de pronto revelaria as idas dos pastores ao Planalto, com quem se encontraram, qual foi a agenda. Fizeram exatamente o contrário.
Na quarta-feira (13), o Gabinete de Segurança Institucional, chefiado pelo general Augusto Heleno, em desrespeito à Lei de Acesso à Informação, tornou as idas dos pastores ao Palácio do Planalto um verdadeiro segredo de Estado. Alegou que divulgar quantas vezes os pastores estiveram no palácio e com que conversaram poria em risco a vida do presidente e de seus familiares. Não explicou, porém, como essas informações comezinhas são tão perigosas. Não colou. Deu ruim.
A perplexidade geral forçou a abertura da caixa preta na noite dessa quinta-feira (14): o general Heleno teve de revelar que foram 35 idas dos pastores lobistas ao Planalto para reuniões com o presidente e ministros que despacham no palácio. Nesses tempos de trabalho remoto e híbrido, praticamente batiam ponto lá. A imprensa também denunciou e o TCU deu um freio de arrumação no pregão para a compra de ônibus escolares pelo mesmo FNDE. A área técnica propôs como preço máximo para cada ônibus o valor de R$ 270,6 mil, mas numa verdadeira mágica alguma mão esperta elevou o preço máximo para R$ 480 mil. Se desse certo, o rombo seria de R$ 732 milhões. No argumento torto de Ciro Nogueira, como o TCU barrou, a corrupção se tornou virtual.
Foi o mesmo que aconteceu naquela tentativa de compra da vacina Covaxin, um golpe milionário que só não foi adiante por causa da denúncia de um servidor público de carreira. E quem foi acusado de ser o patrono dessa tentativa de maracutaia? O deputado Ricardo Barros, líder do governo na Câmara, e cacique no PP de Ciro Nogueira, cujo pupilo no FNDE está tendo que explicar também porque, em vez de concluir as obras de 3,5 mil escolas, anunciou a construção de mais 2 mil sem nenhuma previsão orçamentária. É o vale tudo eleitoral.
O deputado Arthur Lira, presidente da Câmara, é outro integrante desse triunvirato pepista que manda no governo. Em Alagoas, seu reduto eleitoral, uma farra com recursos do FNDE, no valor de R$ 26 milhões, bancou a compra de kits de robótica, inclusive para escolas com problemas como falta de água e sem computadores. De acordo com a Folha de São Paulo, a empresa Metalic, ligada a aliados de Lira, comprou cada kit por R$ 2,7 mil em uma empresa no interior de São Paulo e repassou cada um deles às prefeituras alagoanas por R$ 14 mil, uma diferença de 420%.
Diante desses e de outros escândalos, Jair Bolsonaro insiste em dizer que não há corrupção em seu governo. É mais uma fake news presidencial. Os desvios de recursos públicos continuam. O que reduziu foi a investigação com a escolha a dedo para o comando da Procuradoria Geral da Republica, da Polícia Federal e da Receita Federal e da articulação com outros poderes para enterrar a Lava Jato e outras grandes investigações sobre corrupção.
Simples assim.