Décadas passadas de um período nebuloso já engolido pela História e vivido ao longo de duas gerações anteriores, os chefes militares em seus cargos de comando – Exército, Marinha e Aeronáutica – divulgaram mais uma mensagem conhecida mas não apreciada pelos brasileiros.
O texto apresenta a mesma xaropada dos anos anteriores, mas quem não for aficionado pelo estamento militar não precisa perder tempo com a leitura, pois são repetidas as mesmas baboseiras do passado. Um golpe militar jamais seria um acontecimento suave. Assina o Ministro da Defesa, General Braga Neto, candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro à reeleição.
Os presidentes militares da época, hoje sucedidos por um militar expulso da corporação e depois eleito presidente da República, em votação democrática, foram eleitos indiretamente por um Congresso subjugado pela ditadura.
O presidente eleito, hoje em busca de reeleição, tem sido pior do que os que o antecederam na ditadura. Aliás, premonitoriamente, o presidente Geisel chegou a afirmar, já naquela época, que Bolsonaro era um mau militar. Geisel viria a garantir a abertura política destituindo os comandantes militares contrários ao retorno à normalidade democrática.
Em 79, com a anistia, o país retornou à normalidade politica mesmo com a morte de Tancredo Neves. Desde então, não há um 31 de março sem a revisão saudosista dos chefes militares daquela época indigesta, estimulados por Bolsonaro, protetor dos torturadores. Se houver novos problemas, poderão ser mais graves devido à liberação de armas pelo atual presidente.
Melhor seria se os ministros militares suspendessem esta celebração sem sentido, e se integrem aos brasileiros que trabalham e estudam para promover a recuperação do país. Basta de maldizer o finado comunismo, que hoje só existe na mentalidade do Bolsonaro. E lá convive, nos meandros de seu raciocínio, com os neonazistas dedicados a assustar os ministros do STF.
É difícil redigir a nota anual dos ministros militares pela passagem da efeméride. Repetir a mesma coisa e tentar ser original é difícil. Ler e achar conveniente pior ainda. O povo brasileiro tem noção da importância e do valor de suas Forças Armadas, e assim observa eventuais deslizes, como o golpe de 64.
O Brasil está diante de um próximo risco. O presidente militar que busca a reeleição é reconhecidamente de pensamentos retrógrados, irascível, estimulador do ódio e provocador, além de outras características negativas. Estimula o ódio, desrespeita as mulheres e seu passatempo é xingar jornalistas. Negocia com radicais, provocadores e evangélicos nada confiáveis.
Os ministros militares precisam se modernizar. Aceitar a evolução de costumes e ideias, pensamentos e ações. O vocabulário das mensagens de 31 de março é repetitivo. A apelidada Redentora já acabou há muito tempo. Todo pronunciamento do comando militar na data do golpe fala de supostas conquistas e pretensas melhoras na vida dos brasileiros e na situação econômica e política do país. Lembra a anistia, óbvio. Ignora os grandes crimes praticados pela ditadura, mas os brasileiros sabem e deles jamais esquecem. Ao longo da ditadura o Congresso foi fechado, a imprensa censurada, houve assassinatos e torturas, milhares de exilados no exterior, perseguição a artistas, proibição de músicas e peças teatrais, supressão dos direitos civis.
Os responsáveis pelos crimes não os confessam nem os admitem. Natural que os adversários da ditadura se manifestem revoltados a cada reedição do texto. Já o Ministro da Defesa poderia, a cada ano, assinar um ato tornando válido o documento do ano anterior. Mandar só para os três comandantes. E basta.
Essa repetição já cansou e não haverá no próximo ano. Está difícil dizer o mesmo com palavras diferentes. O presidente eleito certamente cancelará a chatice que se repete anualmente. A celebração só não será suspensa se o sucessor de Bolsonaro for ele próprio.
Ladainha – “Falação fastidiosa que está sempre repisando as mesmas ideias; enumeração longa e cansativa; repetição monótona e tediosa de queixas e recriminações; lenga-lenga”.
Revelações de diplomatas
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