Meu pai, um homem de poucas letras, sábio pela vida, usava uma expressão muito conhecida na região sul quando ouvia um boato de política ou futebol: “Isto é conversa para boi dormir!” Vivo hoje o fosse, ao ver uma destas fake news que poluem as redes sociais, não tenho dúvidas, seu Frederico repetiria: “Mais uma estória pra boi dormir”. Foi na Copa do Mundo de 1950 – a primeira no Brasil, enfiamos uma goleada na Espanha de 6 X 1, e no rádio estourou o sucesso da marchinha “Touradas em Madrid“, composta pelo Braguinha, que termina com este verso: “Queria que eu tocasse castanholas e pegasse um touro a unha / caramba, caracoles / não me amoles / pro Brasil eu vou fugir / isso é conversa mole / para boi dormir”.
O Maracanã foi construído especialmente para aquela copa para ser o maior estádio do mundo. Lotado com 200 mil pessoas que viram na final o Uruguai nos ganhar de 2 X 1 e levar a copa. Foi o famoso maracanaço, como ficou conhecido na história do futebol uruguaio. Já na copa de 2014, aquela mesma da fragorosa goleada dos 7 X 1 e um passeio de bola que levamos da Alemanha, quando as críticas se faziam sentir que precisávamos de hospitais e não de novos estádios, a conversa mole pra boi dormir vinha do governo e de nossos atletas que alegavam “não se faz copa do mundo com hospitais, mas sim com estádios”.
Somente na tragédia da pandemia – dez anos depois – os brasileiros se deram conta da falta de hospitais e que os estádios ociosos e superfaturados ficaram vazios. Quantas vidas poderiam ter sido salvas?
Futebol e carnaval são temas onde proliferam as estórias e as fantasias que criativamente se renovam. Infelizmente, também na política brasileira, as máscaras e fantasias fazem parte do enredo da nossa história, não contadas e confeccionadas por carnavalescos, mas pelos famosos marqueteiros com suas estórias pra boi dormir.
Perder uma copa do mundo faz parte do jogo de futebol que tem suas regras, juiz e uma torcida atenta, inclusive agora até com VAR (video assistant referee) para dirimir as dúvidas dos lances mais polêmicos do jogo jogado no campo sob os olhares fiscalizadores dos voluntariosos e fanáticos torcedores. Já no jogo da politicalha, a plateia não participa, mas paga, pois é nos bastidores que os donos dos partidos costumam fazer suas maracutaias e repartir os bilhões do imoral fundo eleitoral.
“Equipe de Lula e cúpula do PT disputam comando sobre comunicação da campanha.” Jilmar Tatto e Franklin Martins têm divergências sobre propaganda do ex-presidente Lula e ações do partido… A ordem do marketing da campanha é investir na marca Lula, e não na imagem do PT, uma vez que o ex-presidente diz ser pré-candidato de “um movimento para reconstruir a democracia”… A decisão desagradou à Secretaria de Comunicação do PT, comandada por Tatto.
Em conversas reservadas, dirigentes afirmaram que não há “dois dinheiros”, um para fazer serviço para Lula e outro para o partido… A soma dos fundos partidário e eleitoral, a ser destinada ao PT em 2022, chega a R$ 594,4 milhões” [Julia Affonso e Vera Rosa, O Estado de S. Paulo, 14 de março de 2022].
Partidos preveem eleição marcada por ‘traições consentidas’ nos Estados Líderes e dirigentes dos partidos envolvidos na disputa presidencial deste ano preveem uma campanha marcada por “traições consentidas” aos seus futuros candidatos e avaliam que será impossível criar mecanismos para garantir, nos Estados, a lealdade aos palanques nacionais. A leitura do mundo político é de que a proibição das coligações proporcionais, a cláusula de barreira e a polarização consolidada entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) resultaram em um descolamento mais acentuado das candidaturas regionais dos postulantes ao Palácio do Planalto [Pedro Venceslau, O Estado de S. Paulo, 15 de março de 2022].
Portanto, esta eleição promete não apenas conversa mole pra boi dormir, mas verdadeiras “traições” e “quantos dinheiros existem” além dos 5 bilhões da imoralidade do fundo eleitoral, mas também aqueles das cuecas, em malas, os do caixa dois e ainda aqueles que estão guardados no exterior, exatamente para serem usados nestas compras de passes de políticos e no pagamento dos marqueteiros que transformam os candidatos em vestais da moralidade publica e fenômenos na gestão.
“Segundo o tesoureiro nacional do PSDB, César Gontijo, a provável saída de Eduardo Leite do partido será um ‘desastre financeiro’. O dirigente tucano lembrou que o gaúcho recebeu R$ 1,2 milhão da legenda para disputar as prévias contra o ex-prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, e o governador de São Paulo, João Doria, que venceu a disputa interna”. [Pedro Venceslau, O Estado de S. Paulo, 15 de março de 2022].
Fundo bilionário
“A projeção é de autoria da advogada Carolina Lobo, especialista em direito eleitoral e membro da Abradep. Veja quanto cada legenda deve arrecadar, segundo o cálculo, apenas do fundo eleitoral”.
1- União Brasil – R$ 770,07 milhões (15,73% do total)
2- PT – R$ 484,61 milhões (9,89%)
3- MDB – R$ 356,72 milhões (7,28%)
4- PP – R$ 338,59 milhões (6,91%)
5- PSD – R$ 334,18 milhões (6,82%
6- PSDB – R$ 314,09 milhões (6,41%)
7- PL – R$ 283,22 milhões (5,78%)
8- PSB – R$ 263,62 milhões (5,38%)
9- PDT – R$ 248,43 milhões (5,07%)
10- Republicanos – R$ 242,06 milhões (4,94%)
11- Podemos – R$ 187,67 milhões (3,83%)
12- PTB – R$ 112,21 milhões (2,29% do total)
13- Solidariedade – R$ 110,754 milhões (2,26%)
14- Psol – R$ 97,51 milhões (1,99%)
15- Pros – R$ 89,18 milhões (1,82%)
16-Novo – R$ 87,71 milhões (1,79%)
17- Cidadania – R$ 86,24 milhões (1,76%)
18- Patriota – R$ 84,28 milhões (1,72%)
19- PSC – R$ 79,87 milhões (1,63%)
20- PCdoB – R$ 74,48 milhões…
21- Rede – R$ 68,11 milhões (1,39%)
22- Avante – R$ 67,62 milhões (1,38%)
23- PV – R$ 49,00 milhões (1%)
24- PTC – R$ 22,54 milhões (0,46%)
25- PMN – R$ 13,72 milhões (0,28%)
26- DC – R$ 9,31 milhões (0,19%) PCB
27- R$ 2,94 milhões (0,06% do total)
28- PCO – R$ 2,94 milhões (0,06% do total)
29- PMB – R$ 2,94 milhões (0,06% do total)
30- PRTB – R$ 2,94 milhões (0,06% do total) PSTU
31- R$ 2,94 milhões (0,06% do total)
32-UP-R$2,94 milhões (0,06% do total.
“Quo usque tandem abutere, Catilinia, patientia nostra?” Até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência? No leste europeu mais uma imbecilidade da guerra mata pessoas, destrói cidades e monumentos, obriga famílias a se refugiarem e, ainda por cima, cria tensão internacional para tumultuar a economia mundial alterando o preço do petróleo, gás, alimentos, juros e inflação. Mas aqui no Brasil são os políticos que matam a nossa paciência com sua conversa mole pra boi dormir, mas não se esquecem de encher seus bolsos e suas cuecas com o nosso dinheiro e, ainda, invadindo nossas casas no horário eleitoral para os marqueteiros venderem seus salvadores da pátria.
* Nilso Romeu Sguarezi é advogado. Foi deputado federal constituinte de 1988 (parlamentarista, defensor de uma Constituinte Exclusiva, eleita pelo voto distrital, com 50% de homens e mulheres constituintes, sem financiamento público, com limites de arrecadação privada, através de uma Emenda Constitucional de Iniciativa Popular)