A enorme carência de pessoal técnico no setor de tecnologia da informação está provocando um grande movimento no sentido da diversidade de gênero, cor, idade, renda e de localização.
A necessidade está exigindo que se aproveite todas as pessoas: os engenheiros que viraram Uber, os mais velhos que acreditavam já estar fora do mercado, as mulheres que não são incentivadas a seguir carreiras tecnológicas, pessoas de baixa renda que não tinham acesso às formações na área, pessoas discriminadas por racismo estrutural ou gênero, jovens inteligentes morando no interior sem condições de se deslocar para as capitais, pessoas com necessidades especiais, enfim, todo mundo tem agora uma chance e um incentivo para trabalhar em TI. E a remuneração dispara, provocando problemas principalmente para pequenas empresas que perdem técnicos toda hora sem conseguir acompanhar a escalada salarial.
Empresas de recrutamento sofrem a falta de candidatos para as vagas abertas e a desistência antes ou no meio do processo de contratação. A tecnologia e a pandemia também ajudaram. O home office não distingue aparência, localização ou formação – se conseguir programar, está dentro. A oferta de cursos de preparação explodiu e continua crescendo, presenciais ou virtuais, e oferecidos por instituições de ensino e por empresas em geral. E as distorções também ocorrem. Tem gente com três empregos ao mesmo tempo, um em cada estado ou continente, trabalhando em inglês. Empresas não exigem mais nem diploma e estudantes com talento para a área são contratados antes ou durante a faculdade.
Esse movimento mexe com a estrutura de ensino em todos os níveis e aprofunda a necessidade de atenção ao ensino orientado para o STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática). Pode até ser a grande oportunidade de se perceber essa importância.
O conceito STEM é uma obsessão nos Estados Unidos, incomodados com a baixa classificação do país nos resultados do teste PISA em comparação com os líderes China, Singapura, Estônia, Finlândia, entre outros. Imaginem então o nosso problema com a classificação lá pelo 60º lugar.
O conceito foi ampliado para STEAM, incluindo artes, com a percepção de que as indústrias antigamente apenas fabricavam produtos. Hoje elas se preocupam com design, marketing e redes sociais. Você pode fabricar um tênis em qualquer lugar, mas só conseguirá vendê-lo por 300 dólares se conseguir associar uma história ao produto ou à marca.
Além disso, Mark Zuckerberg, criador do Facebook, chegou a se formar em psicologia. Ele dizia que o Facebook era tanto psicologia e sociologia como era tecnologia. E como disse Steve Jobs: “Tecnologia sozinha não é suficiente – é a tecnologia, casada com artes e humanidades, que criam o resultado que nos encantam.” Afinal, Netflix, Spotify e nem a Apple com seu design devem o sucesso apenas à tecnologia.
O ensino deve caminhar para ser mais prático com experiências que incentivem e despertem vocações. Todos convivemos com máquinas e equipamentos ao nosso redor sem saber como funcionam máquinas de lavar, geladeiras, elevadores, TVs, computadores ou celulares. Se os alunos aprendessem os princípios de funcionamento desses produtos à sua volta poderia ser um incentivo às profissões STEAM. O país tem fábricas de todo tipo de equipamento, mas pouquíssimos brasileiros – ou nenhum – sabem projetar um motor, uma sonda de perfuração, um equipamento elétrico, um automóvel ou um trator.
Países desenvolvidos têm uma sofisticação produtiva, produzem bens e serviços cada vez mais sofisticados, tecnológica e mercadologicamente, que exigem técnicos e especialistas muito variados, com alto nível de educação e salários elevados.
Temos de dar um passo adiante, com muita tecnologia e inovação. A visão STEAM é fundamental. O apagão de profissionais em TI pode ser um incentivo. O efeito sobre a diversidade é a boa notícia, mesmo que seja por necessidade.