O verbo da moda em Brasília é “federar”, e os partidos descobriram que, de fato, o instituto da federação pode ser uma mão na roda. Para as pequenas legendas, representa sobrevivência. Para as médias e grandes, com expectativa de poder, significa bancadas maiores e governabilidade. Por isso mesmo, sua concretização é dificílima, e desse amontoado de balões de ensaio lançados nos últimos dias devem sobrar no máximo duas ou três federações de verdade.
Partidos da chamada terceira via, por exemplo, andam perdidos às voltas com candidaturas que não se viabilizam e tentam inventar grandes jogadas para tentar mudar o quadro. Alguém acredita que o MDB, o velho MDB de guerra que, por si só, já é uma federação (sempre se dividiu entre grupos opostos) vai aprovar esse casamento com o PSDB para apoiar João Doria? Brincadeira.
Para ficar ainda nesta seara, os emedebistas conseguirão em cada estado, combinar que só terão candidatos junto com o União Brasil, ex- PSL e DEM? E que isso vai durar até a eleição municipal de 2024? Óbvio que não, e também nesse caso a “ameaça” de federação te sua função política. O MDB aumenta seu cacife para negociar com Doria uma união que todo mundo sabe que não vai sair.
O União Brasil, por sua vez, está usando a conversa de federação para fugir de uma hipotética união com o Podemos para apoiar a candidatura do ex-juiz Sergio Moro – que a ala ex-DEM, cheia de ex-acusados na Lava Jato, não quer ver nem pintado. Aliás, Moro deve acabar como o candidato mais isolado da temporada. O União Brasil está dando um jeito de driblar também uma eventual filiação.
Na quarta-feira, o STF encerra o julgamento sobre a constitucionalidade das federações, que deve legitimar, mas dificilmente dará mais tempo aos partidos além de abril para formalizá-las. Com isso, boa parte dos balões vai murchar. Os partidos podem continuar falando de alianças e coligações majoritárias, que são acordos temporários e restritos.
Mas, federação mesmo, serão poucas. O PT – que tem estudos mostrando que pode ter uma bancada de 25 deputados a mais em federação – tem chance de fechar a sua com PSB-PCdoB-PV. Ainda corre risco de os socialistas encrencarem no último momento e não entrarem, mas nesse momento caminham para a união. O Cidadania, por sua vez, se partiu em mil pedaços na discussão sobre o assunto, mas é provável que acabe fechando com o PSDB de Doria por questões de sobrevivência. Mesma razão que deve levar PSOL e Rede a “federarem”.