Pululam nas redes sociais comentários sobre o filme Não olhe para cima, da Netflix, focado no comportamento do ser humano frente à destruição do planeta e, obviamente, à sua própria, pela colisão com um cometa. Questões políticas e econômicas tornam-se mais relevantes para a presidente dos Estados Unidos, que não se responsabiliza por alertar a população e agir a tempo de deter o apocalipse.
Os comentários nas redes, em sua maioria, são sempre atacando o comportamento de políticos frentes a decisões, ou à falta de, equivocadas, em que colocam os seus interesses acima do bem-estar de todos, não resolvem o que têm que resolver e, assim, a destruição chega… Nas redes, as pessoas se atacam, uns criticam o partido A por agir assim, outros criticam o partido B por fazer o mesmo. Criticam uns aos outros pelo mesmo comportamento, defendendo a mesma visão, apenas de lados opostos.
É a polarização, que não constrói nada, porque não há diálogo sincero e construtivo. Apesar dos discursos, não há disposição em servir a um bem maior. Há uma falsa abertura para o diálogo, que é usado apenas para saber a posição do outro e atacar. Nunca construir. É uma guerra de clãs que não tem solução.
A comédia holiudiana de Adam McKay traz consequências bem maiores que o simples humor com relação à política americana. Elas atingem em especial as mulheres; e de forma maior, mais destrutiva e lamentável neste filme: na presidência dos Estados Unidos, ainda a maior potência mundial, uma mulher. Sim, foi escolhida uma mulher para ser a responsável por não cuidar da humanidade ao evitar a destruição planetária. Isso sim é devastador nesse filme.
Segundo a história dos Estados Unidos, vários homens sempre à frente do país. Quando se tratou, porém, de retratar o responsável pela desgraça mundial decidiram por criar uma personagem, uma mulher interpretada pela atriz Meryl Streep como presidente. A pergunta que fica é “Por quê?”.
A presidente, além de ter colocado um incompetente à frente do gabinete presidencial, não considera os dados apresentados por dois cientistas, um homem (Leonardo DiCaprio) e uma mulher (Jennifer Lawrence).
A cientista, apesar de ter descoberto e ser reconhecida pelo colega, é descartada por falta de formação adequada. Ela, que luta pelo despertar da consciência, é relegada e rotulada como louca e inadequada socialmente.
O cientista se embaralha nas próprias pernas, “deixando-se” seduzir por uma mulher (jornalista) e pelo sucesso na mídia. Sim, novamente a mulher é colocada como a responsável por desvirtuar a todos (o mocinho!) da solução. A mulher é que o “arranca” dos braços da família, cuja esposa, mais adiante, o recebe de braços abertos, como um menino/adolescente que se “desvirtuou do caminho”.
E assim caminha a humanidade…, colocando a responsabilidade, a culpa, o peso todo sobre todos os seus erros e fracassos em cima da mulher. E retratando o homem como um mero boneco nas mãos dessa mulher.
Desde o mito de Eva responsabilizamos totalmente a mulher pelos nossos próprios comportamentos… Até quando vamos olhar para cima, para baixo, para trás, para frente, para os lados, e não vamos olhar para dentro? Para o nosso feminino, para o nosso masculino. Precisamos curar a criança ferida que insiste em responsabilizar a tudo e a todos pela sua própria destruição.
Triste a mulher ser retratada como tão vil e o homem como tão infantil.
Por mais filmes adultos e menos infantis como essa comédia enlatada americana.
— Débora Da Col Tavares é Jornalista e Consteladora Familiar Sistêmica