Entre os prováveis concorrentes à presidência da República, temos apenas uma certeza: Jair Bolsonaro. O presidente não deixará de disputar a reeleição, salvo remota ocorrência de caso fortuito ou motivo de força maior. Tudo indica, entretanto, que estará na linha de partida e com chances de vencer.
Luíz Inácio Lula da Silva surge em segundo lugar. Durante algum tempo foi o protagonista mais festejado no teatro da política brasileira. Colecionou vitórias e derrotas até superar José Serra, do PSDB, nas eleições de 2002. Não se sabe, todavia, se preserva a antiga forma. Nascido em 27/10/1945, completará 77 anos no final da campanha. Será o candidato mais idoso.
A anunciada aliança com Geraldo Alckmin, figadal adversário nas eleições de 2006, aparentemente desfavoreceu aos dois. Ao defender a revogação da recente reforma trabalhista revelou que, nas viagens internacionais, nada aprendeu sobre a economia globalizada, que ignora a falta de mercado externo aos produtos industrializados nacionais e que espera resolver os problemas do desemprego e da informalidade dando largos passos para trás.
Ciro Gomes é experiente, inteligente, bom orador. Não consegue, todavia, angariar simpatia junto ao grande eleitorado. A candidatura que tanto almeja poderá morrer no ovo, por falta de partido. O PDT, que guarda a imagem de Leonel Brizola, possivelmente não dará legenda ao se convencer de que o ex-governador e senador cearense não tem possibilidade de vencer.
João Dória é outro que tem dificuldade para fazer a candidatura desabrochar. Apesar da vitoriosa campanha pela vacinação contra a covid-19, enfrenta sérias restrições mesmo no Estado que governa. A ambição de ser o candidato da terceira via, ou de centro, não encontra ressonância na opinião pública. Poderia ser bom presidente da República, mas antes será necessário ter os votos que lhe permitam chegar ao segundo turno, superando um dos dois principais candidatos: Bolsonaro e Lula. Não me parece dispor de aeronave e de combustível suficiente para chegar a Brasília.
Sérgio Moro é a incógnita por excelência. Encerrado o período festivo do Natal e de passagem de ano, as pesquisas de opinião pública revelarão se a candidatura do ex-juiz e ministro da Justiça evoluiu ou estacionou. Observo com satisfação o crescimento do número de adeptos da candidatura Sérgio Moro. É uma das alternativas à odiosa polarização Bolsonaro-Lula, onde entram em conflito representantes da velha e pior política brasileira, ambos incapazes de entenderem a democracia, as verdadeiras necessidades sociais, o problema da juventude sem emprego e o desenvolvimento da tecnologia no século 21.
Entre os demais candidatos, ao meu modo de ver dois teriam alguma possibilidade de vitória: Rodrigo Pacheco, senador por Minas Gerais, filiado ao Partido Social Democrático e Simone Tebet, filiada ao Movimento Democrático Brasileiro, senadora pelo Mato Grosso do Sul. Ambos são jovens, juristas e detentores de excelentes currículos. A candidatura de Rodrigo Pacheco é apadrinhada por Gilberto Kassab, hábil político da nova geração. Simone Tebet foi lançada por Baleia Rossi, paulista de Ribeirão Preto, presidente do MDB.
Ciro, Dória, Moro, Rodrigo Pacheco e Simone Tebet têm até o carnaval para deslanchar. Aquele que tiver alcançado entre 15% e 20% das intenções de voto pode prosseguir. Aos demais sugere-se que desistam ou se componham em torno de candidatura única, sendo um deles o candidato à vice-presidência. Em período como o que vivemos, com o Brasil em profunda crise, a polarização Bolsonaro-Lula só se explica pela falta de base eleitoral por parte dos demais. Credibilidade creio que todos têm. Não dispõem, porém, como Bolsonaro, do controle da “máquina” e dos recursos materiais e financeiros que oferece. Quanto à Lula, o componente populista, utilizado com inigualável competência, é que lhe permite manter iludidos milhões de nordestinos.
De Ciro Gomes, João Dória, Sérgio Moro, Rodrigo Pacheco, Simone Tebet, espera-se que tenham a grandeza, que os faça capazes de colocar os interesses do Brasil acima de projetos políticos pessoais.
— Almir Pazzianotto Pinto é Advogado. Foi ministro do Trabalho do governo Sarney. Ex-presidente do Tribunal Superior do Trabalho