O que é ruim sempre pode piorar. O desgoverno Bolsonaro, na ânsia de causar em seu restrito fã clube, segue pondo na roda a vida das pessoas, não importa a faixa etária. Após centenas de milhares de mortos pelo Covid-19, provocadas em boa parte pelo boicote às vacinas, os malucos que dão as cartas no Palácio do Planalto continuam apostando na morte alheia como combustível para seus delírios eleitorais. As crianças entraram agora nessa roleta macabra.
Depois de usar e abusar do tempo técnico da Anvisa diante de inéditos desafios científicos — período em que jogou pesado a favor do coronavírus com a propagação de todos os tipos de mentira –, a máquina bolsonarista nas redes sociais ataca agora a própria Anvisa. Mira na decisão da agência de liberar a vacina da Pfizer para crianças a partir dos cinco anos de idade, seguindo a bula do laboratório aceita pelas mais rigorosas agências sanitárias mundo afora.
Parecia apenas mais uma lorota na narrativa negacionista de sempre. Mas foi aí que entrou em cena o médico Marcelo Queiroga, atual ministro da Saúde, que chegou ao cargo com o aval do Centrão, e, mais uma vez, ignorou sua própria formação profissional, e tropeçou em seguidas sandices. Seria apenas mais um meme nas redes sociais.
Mas, na realidade, Marcelo Queiroga virou um pião num jogo em que se deslumbrou, trocou os pés pelas mãos, e só enxerga como porta de saída um mandato que lhe assegure imunidade parlamentar, tamanhas besteiras e crimes cometidos. Assim, pretende seguir até abril obedecendo o que o mestre Bolsonaro mandar. A ordem agora é atrasar a vacinação das crianças entre 5 e 12 anos pelos mais variados e inacreditáveis pretextos.
Todo esse barulho é para ganhar alguns dias e agradar à pequena e fanática turma antivacina. É o jogo de sempre: Chutam a bola para fora de campo e esperam que o STF a devolva para a partida seguir em frente. Dessa vez desprezam milhares e milhares de crianças que nada têm a ver com esse joguinho eleitoral e poderiam estar sendo vacinadas contra um vírus que pode matá-las ou deixar algum efeito colateral.
Quem pagou o mico, claro, foi Queiroga. Aceitou o papel vergonhoso desempenhado pelo general Eduardo Pazuello que nenhum médico com um mínimo de envergadura toparia. Nessa quinta-feira (23), com uma planilha na mão com dados sobre infecções e mortes de crianças pelo Covid-19, definida pelo presidente da Anvisa, Antonio Barra-Torres, como estatística macabra, Queiroga sentenciou: “Mortes de crianças estão em patamar que não pede decisões emergenciais. Ou seja, isso favorece que o ministério possa tomar uma decisão baseada na evidência científica de qualidade, na questão de segurança, na questão da eficácia. afinal de contas, nós queremos levar para os pais e para as mães uma palavra de conforto e esperança. Hoje nós estamos na época do Natal, é uma época propícia para isso”.
Queiroga meteu o bedelho onde não deveria. É a Anvisa a única responsável no estado brasileiro para avaliar a qualidade das vacinas, sua segurança e eficácia. O ministro da Saúde se fez de sonso para atender a Bolsonaro e empurrar a vacinação das crianças para o ano que vem. Azar dos filhos, netos e bisnetos que porventura morrerem por não terem sidos vacinados por causa de um aleatório e ideológico patamar dessa trupe que está no poder.
A sabujice de Queiroga explodiu nas redes sociais. Em tempos de Natal, foi logo associada ao rei Herodes ( bombou até um meme Queirodes), que um pouco mais de 2 mil anos atrás teria se sentido enganado por três reis magos que haviam previsto a chegada de um bebê que poria seu reinado na berlinda. Mas não revelaram aonde ele nasceria. Segundo a Bíblia, “quando Herodes percebeu que havia sido enganado pelos magos, ficou furioso e ordenou que matassem todos os meninos de dois anos para baixo, em Belém e nas proximidades” (Mateus 2:16). Jesus teria escapado dessa matança, que não é consenso entre os historiadores, e se tornado a maior referência de Deus no Ocidente.
Por sua vez, o protagonismo de Herodes na chamada Terra Santa vem sendo resgatado por históricas obras em suas quatro décadas de reinado. Ele ergueu palácios suntuosos em torno do Mar Morto, portos tidos como colossais naquela época, e, em Jerusalém, o Segundo Templo de Salomão, destruído ao longo do tempo, do qual só resta hoje o Muro das Lamentações, espaço sagrado do judaísmo.
Bolsonaro, além do negacionismo sanitário, pouco tem a mostrar. As exceções parecem as gestões dos ministros Tarcísio Freitas, Infraestrutura, e Tereza Cristina, Agricultura. Paulo Guedes virou o boneco João Bobo de postos de gasolina. Na Saúde, Educação, Meio Ambiente, Relações Exteriores, Justiça, entre outros, só retrocessos. O Estado que já funcionava mal se desmancha no ar. Privilegiar algumas categorias, como as policiais, só piora a situação. Quem não entregou na barca se rebela.
Tudo somado e subtraído, Herodes perderia de Bolsonaro apenas no quesito matança infantil. Bolsonaro e Queiroga parecem querer empatar até esse jogo macabro.
A conferir.