Por que não foi demitido o ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, depois da desastrada declaração admitindo uma jornada de trabalho de 12 horas? Por que ele continuou no cargo mesmo tendo dado de bandeja o melhor mote para unir e ampliar os movimentos contra o governo Michel Temer?
A maneira como Ronaldo Nogueira chegou lá talvez seja a melhor explicação para as razões que ainda o mantem no cargo.
A ideia inicial de Michel era enxugar a equipe e escalar alguns notáveis para o Ministério. Às vésperas da votação pela Câmara da admissibilidade do processo do impeachment virou um vale tudo em Brasília. Partidos que tinham votos suficientes para definir a disputa protagonizaram um intenso toma lá dá cá com operadores dos dois lados. Com fama de não cumprir acordos, Dilma teve que recorrer ao ex-presidente Lula para ser fiador de suas promessas. A turma de Temer, com melhores profissionais no ramo, ganhou a parada.
Surgiu, então, um novo problema. As disputas internas em alguns partidos que geraram impasses. O PTB foi um deles. Conseguiu a indicação para o Ministério do Trabalho, mas na hora de bancar o nome se dividiu. De um lado, o ex-deputado Roberto Jefferson, com o controle absoluto da máquina partidária. Seu candidato era o deputado Benito Gama (BA).
Em circunstâncias normais, Roberto Jefferson sequer seria contestado. Mas ali nada era muito normal. O líder do PTB, deputado Jovair Arantes, além da influência sobre a bancada, ganhou cacife ao relatar o processo de impeachment na Câmara. Seu candidato era o deputado Alex Canziani (PR).
Os articuladores que atuavam na montagem do novo governo ora escalavam Gama em suas listas ministeriais, depois trocavam por Canziani e por aí foi. Diante do impasse, sobrou para o deputado Ronaldo Nogueira (RS), parlamentar pouco expressivo que também é pastor da Igreja Evangélica Assembleia de Deus.
Na avaliação de alguns inquilinos do Palácio do Planalto, mesmo com todo o desgaste, ficou mais barato mandar o ministro fazer um patético desmentido: “O presidente me ligou, me orientou a reafirmar que o governo não vai mexer na jornada de 8 horas e nem tirar nenhum direito trabalhista”.
Com ministros mais notórios pelas gafes, como Ricardo Barros, da Saúde, por mais que o Palácio do Planalto não queira agora fazer marola em sua base parlamentar, em algum momento terá de rever essa equipe escalada na ponta do laço.