Rodrigo Pacheco tem apenas 45 anos e dois mandatos parlamentares: um como deputado – durante o qual presidiu a poderosa Comissão de Constituição e Justiça – e, agora, como senador. E, de cara, foi eleito presidente do Senado e, como tal, do Congresso Nacional. Há poucos dias, no dia 27 de outubro, escolheu o Memorial JK em Brasília, como palco de sua filiação ao PSD e, se tudo der certo, de sua caminhada em busca da Presidência da República. Atrás da mesa em que Pacheco era a figura central, uma grande foto do próprio JK, de braços abertos, como que a abençoá-lo. Mais simbolismo, impossível.
Eleito em dobradinha com Arthur Lira na Câmara dos Deputados, com apoio do governo, aos poucos procurou se distanciar do presidente Jair Bolsonaro. Com fala mansa, perfil de diálogo, serenidade e seriedade, tentava emular o padrinho JK e se destacar no cenário político. Sua curta trajetória mostra que é um cara de sorte – e sorte em política é um dado relevante. Então, o que o levou a desperdiçar a chance de se diferenciar de Lira e outros que defendem o orçamento secreto? Esta era a sua hora. E, se não o faz, é porque tem culpa no cartório. Uma conclusão meio óbvia.
Vale a pena confrontar o Supremo Tribunal Federal, cujo entendimento é o de que se deve dar publicidade e transparência à distribuição dessas verbas? Ele deve ter feito este cálculo, o que torna ainda mais preocupante a sua atitude (de Lira não se esperava outra coisa mesmo). Político inteligente, de palavras estudadas, como pode usar de argumentos tão toscos e facilmente contestáveis (aliás, já foram desmentidos pelos técnicos do próprio Senado) para dizer que não há como cumprir a ordem judicial porque não existem documentos que registrem as solicitações de deputados e senadores? Como assim? Não há registro dos nomes dos parlamentares responsáveis por gastos de mais de 20 bilhões? Calma aí, não se trata de troco de pinga…
O que foi feito por baixo desses panos? Quem, como e quanto levaram suas excelências? Por que a preferência dada a Codevasf, por exemplo? Por que fazer das tripas, coração para manter tudo em sigilo? Levantar o véu que cobre as negociações desses dois últimos anos é hoje uma questão central, que pode até dar numa nova Comissão Parlamentar de Inquérito.
Dar seu apoio – meio dissimulado, é verdade, tanto que não presidiu a sessão do Congresso que tratou do tema – ao projeto que promete transparência futura também não parece uma solução decente. Aqui, novamente, os argumentos de defesa do texto são toscos, pobres e cheios de brechas para antigas e novas falcatruas.
Rodrigo Pacheco sabe de tudo isso, conhece as variantes e argumentos e, se levou adiante, é porque achou que valia a pena o preço a pagar. Pode, no entanto, jogar por terra suas ambições. E o sempre atento e experiente presidente do seu partido, Gilberto Kassab, que lançou seu nome (pensando numa vice?), começa a se preocupar. A abertura dessa caixa preta – ou de Pandora – pode respingar em muita gente; o dever de lealdade a esta turma pode gerar frutos momentâneos, mas também destruir reputações, para quem se importa com elas. E, certamente, não deve ser o que JK pensaria e faria.
PS: Para efeito de recordação, uma frase do discurso de Pacheco no que foi considerado por muitos o lançamento de sua candidatura à Presidência da República: “Hoje, estamos todos cansados e descrentes. Estamos cansados de viver em meio a tanta incerteza, a tanta incompreensão e intolerância. Uma sociedade dividida, em que cada um não admite o contrário e não aceita a existência do outro, nunca vai chegar a lugar algum.” A conferir o lado que ele vai escolher.