A filiação de Jair Bolsonaro ao PL, nesta terça-feira, consolida de vez a traição do presidente aos 57 milhões de incautos eleitores que acreditaram nas promessas de campanha em 2018, feitas pelo capitão, de que romperia com o que chamou de “velha política”.
Indignados com a voracidade do PT e seus aliados em atacar os cofres públicos, escancarada pelos escândalos do Mensalão e Petrolão, muitos eleitores esqueceram de fazer uma breve consulta ao Google antes de apertar o 17 e acabaram comprando gato por lebre.
Se tivessem tido essa preocupação, teriam constatado o óbvio: Bolsonaro e seus filhos sempre estiveram próximos aos partidos que compõem o chamado Centrão – grupo mais fisiológico do Congresso e que participou de todos os escândalos envolvendo desvio de dinheiro público dos últimos 30 anos. Aliás, o próprio presidente declarou, em agosto deste ano, que “sempre” foi do Centrão.
Ao lado do mensaleiro Valdemar Costa Neto, Bolsonaro é a própria imagem da política brasileira na pior concepção da palavra. Aquela política feita na base do toma-lá-dá-cá, que o presidente, durante a campanha de 2018, prometeu combater.
Acompanhada por 15 ministros e outras autoridades como o presidente da Câmara, Arthur Lira, a cerimônia de filiação não permitiu a entrada de jornalistas, como relatou o fotógrafo Orlando Brito, de Os Divergentes, na cobertura do evento. Talvez por medo de perguntas incomodas ou por não ter o que dizer a quem acreditou em suas palavras na campanha de 2018.
Derretendo nas pesquisas, especialmente depois da filiação de Sérgio Moro ao Podemos, Bolsonaro e o Gabinete do Ódio tentam colar no ex-juiz a pecha de traidor. Deveriam ter escolhido outro adjetivo, afinal, este cai melhor no próprio presidente, que traiu não apenas os seus eleitores, descumprindo suas promessas de campanha, mas todos aqueles que estiveram ao seu lado nos últimos tempos.
Os primeiros a serem traídos pelo presidente foram o coordenador da sua campanha, o advogado Gustavo Bebianno, e o general Santos Cruz, amigo de Bolsonaro há mais de 40 anos. Ambos foram defenestrados do governo de forma vil, sem qualquer respeito por intrigas feitas por Carluxo.
Os aliados menos poderosos também sofreram com as atitudes traiçoeiras do presidente. A ativista Sara Giromini, conhecida como Sara Winter, em depoimento à Polícia Federal semana passada, acusou o general Augusto Heleno de incentivar o grupo bolsonarista 300 do Brasil, liderado por ela, a fazer ataques ao Supremo Tribunal Federal. Orientação reforçada pelas deputadas Bia Kicis e Carla Zambelli. Na época a ativista acabou sendo presa e hoje é alvo de pelo menos dois inquéritos no STF, comandados pelo ministro Alexandre de Moraes.
No ano passado, em plena pandemia, Bolsonaro incentivou várias manifestações – normalmente realizadas aos domingos – pedindo o fechamento do Supremo e do Congresso. Participou pessoalmente de muitas delas. Mas na hora que precisou da ajuda dos ministros do STF para livrar a cara do filho 01, senador Flávio Bolsonaro das acusações da rachadinha, correu para abraçar o então presidente do Supremo, ministro Dias Toffolli, deixando os manifestantes sem entender o que estava acontecendo.
Junto com Toffolli, costurou um acordo envolvendo os demais poderes para acabar de vez com a Lava Jato e com o combate à corrupção, bandeiras de campanha em 2018.
O ex-deputado Roberto Jefferson é outro que conheceu de perto a traição de Bolsonaro e acabou voltando pro xadrez e perdendo a presidência do PTB.
E o que dizer dos brasileiros que foram às ruas no 7 de setembro para pedir “voto auditável” e criticar as urnas eletrônicas acreditando na balela inventada por Bolsonaro para desviar o foco da incompetência do seu governo no combate à pandemia? Agora Bolsonaro diz que as eleições de 2022 serão “confiáveis”.
A lista de traições é enorme e a filiação ao PL é apenas a consolidação de todo esse processo. Infelizmente, apesar de todos esses fatos, ainda há os devotos que acreditam no “mito” e se revoltam quando confrontados com a verdade.