Essa imagem está completando um ano. A fiz durante as comemorações da Semana da Pátria, no tradicional desfile do Sete de Setembro, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. A então presidente Dilma Rousseff e seu vice Michel Temer estão juntos no palanque de honra. Difícil imaginar que a faixa presidencial, símbolo do poder reservado para quem comanda a República viesse 365 dias depois mudar de busto.
Naquele dia era visível, perceptível, o clima inamistoso entre a presidente e o vice, bem ao contrário dos anos anteriores, quando ambos participaram da mesma festa. Dessa vez, durante o tempo que ficaram lado a lado, pouco mais de uma hora, trocaram poucas palavras. Sorriso, nenhum. Isto ensejou, evidentemente, comentários de que se tratava apenas de momentâneo e desimportante estado de espírito. Pouca gente arriscava dizer que aquele pequeno distanciamento viria se transformar em algo irremediável. Jamais uma grave crise.
Era, na verdade, uma imagem premonitória.
Depois daquele dia, a situação se agravou. No começo de dezembro, o então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, acolheu o pedido de abertura do processo de impeachment contra Dilma Rousseff. O fato de Michel Temer não ter se pronunciado em sua defesa, deixou-a embravecida. Exatamente três meses após o desfile militar do Sete de Setembro, veio a público uma carta na qual Michel expunha uma lista de 11 itens de reclamações. Dizia, por exemplo, que passara os quatro anos do primeiro mandato sem protagonismo político e que parecia um vice decorativo.
A carta de Michel para Dilma começava com uma citação em latim: “Verba volant, scripta manent” (As palavras voam, os escritos permanecem). Temer ressaltava que era de caráter pessoal e que devia tê-la enviado antes. E ainda, sobretudo, entre outras colocações o “PMDB tem ciência de que o governo busca promover a sua divisão, o que já tentou no passado, sem sucesso”.
A partir daí, a presidente e o vice poucas vezes estiveram juntos. As raras ocasiões ficaram restritas às cerimônias formais, nas quais o protocolo exigia a presença de ambos. Eu mesmo os fotografei em situações inegavelmente desconfortáveis. Enfim, o tempo passou e não somente o relacionamento interpessoal degradou-se. Mas, principalmente, o convívio institucional. Em 17 de abril de 2016, a Câmara, ainda presidida por Eduardo Cunha, aprovou o afastamento temporário de Dilma. Michel Temer assumiu interinamente o Palácio do Planalto e, no dia 31 agosto passado, o Senado definiu por 61 votos a favor e 20 contra a cassação do mandato da senhora Rousseff.