Ao valer-se de seu poder de presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado para tentar barrar a indicação de André Mendonça à 11ª vaga no Supremo Tribunal Federal, o senador Davi Alcolumbre (DEM-AP) mostra-se um político medíocre. Eleito pelos colegas em 2019 presidente da Câmara Alta na empolgação da chamada “nova política”, farsa estrelada pelo presidente Jair Bolsonaro, o amapaense é a prova de que boa parte da política continua tão mofada como dantes.
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Em vez de exercer a relevância da presidência da CCJ, o segundo colegiado mais importante do Senado, atrás apenas do plenário da Casa, Alcolumbre dedica-se a uma guerra mesquinha contra o advogado e servidor “terrivelmente evangélico”, indicado pelo presidente da República. Ao presidir uma comissão que reúne múltiplas e antagônicas tendências políticas, deveria manter-se equidistante das votações, como fez sua antecessora, a senadora Simone Tebet (MDB-MS), que soube se conduzir no cargo.
Sem controle ou previsão sobre os votos secretos, Alcolumbre tenta vencer no cansaço. Com isto, deixa de presidir as reuniões sempre concorridas da CCJ, por onde costumam tramitar temas de grande impacto na vida nacional, como a reforma tributária. De quebra, perde publicidade espontânea e exposição positiva.
Caso sua motivação para barrar o evangélico André Mendonça seja mesmo impedir a posse de um lavajatista na Corte Suprema, como revelou a jornalista Malu Gaspar, a estatura do senador decai mais um pouco. Lava-jato é aquela operação que, pela primeira vez na história do Brasil, encarcerou homens + brancos + ricos + poderosos. Como a Lava-jato foi golpeada pela cínica união entre petismo + bolsonarismo + Centrão, com a indispensável ajuda dos supremos pretores, o Brasil volta a punir preferencialmente negros e pobres.
Velho normal
Em meio a sua guerra particular, o senador foi alvo de grave denúncia. De acordo com o jornalista Hugo Marques, o senador supostamente apropriou-se de recursos públicos arrecadados de 6 mulheres pobres contratadas por seu gabinete; cerca de R$ 2 milhões provenientes do erário. Em vez de afastar-se do mandato para se defender com a dignidade dos homens públicos conscienciosos, continuou exercendo o poder senatorial. Nenhuma novidade. Seus colegas, flagrados em suspeitas semelhantes, fazem o mesmo. Este é o velho normal.
Fosse ele o único, o mal causado por um político desta estirpe seria reduzido. Mas o discurso que aparentava novidade seduziu milhões na mesma esteira que elegeu Bolsonaro. Se parte expressiva do eleitorado abandonou a esperança da renovação política, outro contingente parece sempre buscar salvadores-da-pátria. Como estes não existem, a frustração acumula-se e o Brasil anda de lado; ou de ré.
A maioria do eleitorado brasiliano vai se interessar de fato pelas eleições gerais lá por meados de 2022. O clima bélico de empolgação eleitoral, incentivado pelos extremos que hoje despontam como favoritos, é a tendência que se vislumbra no horizonte. Sensatez não rima com salvador-da-pátria. Equilíbrio não rima com extremo. E moderação, estranhamente, parece não rimar com eleição.
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O orçamento secreto da União, onde as emendas RP9 são ordenadas pelo relator-geral, tem um ponto cego. Destinadas a redutos específicos com fito eleitoreiro, a última coisa que o parlamentar beneficiado quer é segredo. Se pudessem, colocariam seus nomes nas pontes e nos tratores que conseguem levar aos 5.570 municípios brasilianos.
Um exemplo foi revelado pelos jornalistas Bruno Góes e Natália Portinari. Segundo eles, o prefeito Waguinho (PSL), de Belford Roxo (RJ), não se conteve e revelou que sua mulher, a deputada Daniela do Waguinho (MDB-RJ), havia sido contemplada com emendas do orçamento pelo presidente da Câmara, Arthur Lira. Afinal, liberar verba para seu município e não divulgar equivale a marcar um gol e não comemorar.