Já li que estão criticado o filme (que não vi), baseado na extraordinária biografia sobre o Carlos Marighella, feita pelo jornalista Mário Magalhães, que é uma das cinco melhores obras do gênero já feitas no Brasil.
Para dirimir dúvidas, definir categorias de análise e colocar um túnel no início da luz, proponho o “método Rodin” para analisar o filme. O escultor francês, como todos sabem, dizia que era fácil esculpir aqueles cavalos perfeitos que fazia. Era só tirar da pedra o que não era cavalo.
Vão ver o filme. Retirem dele o que não for cinema. Se sobrar muita coisa, é filme. Se não sobrar quase nada, é cavalo ou outra coisa… depois me contem baixinho.
Já do livro do Mário Magalhães, foi tirado tudo que não era Marighella. É um livro. Uma obra de arte. A reportagem perfeita. Quem não leu, sabe menos do que deveria saber sobre o Brasil.
Para quem não leu o livro e gostou, tenho uma má notícia. Não é um samba exaltação à luta armada. Pelo contrário. É uma crítica sutil e profunda a muitos erros históricos da esquerda: dos erros grosseiros de Prestes ao voluntarismo suicida de 68.
A certos temas, por longos e complexos, o cinema nunca conseguiu fazer bem somente em duas horas de duração. O “streaming” está resolvendo isso muito bem. No caso de Marighella, teríamos tempo para especular sobre seu perfil humano, lendário e heroico. Desvendar as suas contradições.
Uma figura trágica como Don Quixote? Simpático porém louco? Ou um Che Guevara assassinado antes da nossa Serra Maestra?
Mais importante: minha única diferença com o Mário, é que ele é torcedor do E.C. Pelotas, da minoritária e arrogante elite pelotense. Somos quase todos rubro negros e xavantes, os 90% daquele povo bravio. Mário, te perdoo. Ninguém é perfeito, mesmo em Pelotas…