Mirando a reeleição, o presidente Jair Bolsonaro começa a pressionar cada vez mais a área econômica do governo para furar o teto de gastos para garantir o lançamento do Auxílio Brasil -um Bolsa Família turbinado que vai aumentar não só o valor do benefício de R$ 190 para R$ 400, mas o número de pessoas atendidas pelo programa, que passará de 14 para 17 milhões. Essa insistência está levando a economia para um atoleiro difícil de tirar e que pode derreter ainda mais a popularidade do presidente até a eleição em outubro do ano que vem.
Os números estão aí para provar. Além da volta da inflação, que já chegou nos dois dígitos, cada trapalhada do Planalto na economia a bolsa cai e o dólar sobe. Esta semana, com o anúncio do lançamento do novo programa social, a bolsa encerrou a quinta-feira com uma queda de 2,75% e as empresas que compõem o Ibovespa já acumulam quase 300 bilhões em perdas em valor de mercado desde o início da semana. As demissões foram anunciadas após o fechamento do mercado, que nessa sexta-feira (22) deve mostrar sua insatisfação.
A ala política do governo queria aproveitar a visita de Bolsonaro ao Nordeste – região onde existe o maior número de beneficiários do Bolsa Família e o PT ainda reina – para apresentar o Auxílio Brasil como um fato consumado. Na pressa, esqueceram de combinar com os russos e não apresentaram as fontes de financiamento do novo programa. Foi um desastre só.
Nesta quinta-feira, a confusão foi ainda maior, após falas de Bolsonaro e do próprio ministro da Economia, Paulo Guedes, ex-posto Ipiranga, sinalizando que o teto de gastos vai subir no telhado. Por causa desse tipo de pressão, Guedes já perdeu a maior parte do chamado “dream team”, que montou ao assumir para conduzir a economia. Desta vez foram mais quatro importantes auxiliares, entre eles os Secretários do Tesouro e Orçamento, Bruno Funchal, e do Tesouro Nacional, Jeferson Bittencourt, que se demitiram por não concordar com a condução da política econômica, que se afunda cada vez mais no populismo.
Fiador do governo junto ao mercado, Guedes tem perdido cada vez mais sua credibilidade perante o establishment. Enquanto isso, a ala política do governo vem avançando em seus intentos de desestabilizar a economia em nome da reeleição não apenas de Bolsonaro, mas da turma do Centrão.
Mas nem tudo foi derrota para o governo. Nessa quinta-feira (22) a Comissão Especial da Câmara dos Deputados aprovou o relatório do deputado Hugo Motta à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita o pagamento de precatórios, permitindo descontos e reajuste pela taxa Selic. O texto aprovado também altera o cálculo de reajuste do teto de gastos permitindo ao governo contornar a regra de ouro por meio da lei orçamentária.
Um belo presente do Congresso para o governo, que conseguirá, pelos cálculos do relator, uma folga de mais de R$ 80 bilhões – cerca de R$ 50 bilhões com as mudanças nos precatórios e mais R$ 39 bilhões com a mudança na regra fiscal.
Talvez por isso Bolsonaro tenha debochado durante a tradicional live de quinta, afirmando que “o mercado fica nervosinho com o aumento de gastos”. Nervosinho deve ficar ele com a greve dos caminhoneiros batendo à porta.
A proposta apresentada pelo presidente durante solenidade em Pernambuco, de pagar um benefício mensal de R$ 400 aos caminhoneiros autônomos – cerca de 750 mil – para compensar o aumento do diesel, foi vista pela categoria como “piada de mau gosto” de Bolsonaro.
A greve foi mantida e no Rio de Janeiro e em Minas Geral já estão sendo registradas paralisações nas portas das refinarias e há risco de falta de combustíveis nos dois estados.
Acho que Bolsonaro vai precisar pedir ajuda ao Michel Temer outra vez.