- Pedro se zangou lá de cima: “Fizeram um Sete de Setembro de esculhambação”
O Brasil, ainda sob Bolsonaro, teve festa da independência inovadora, com helicóptero, crianças, motoqueiro, xingamento, limusine, motorista campeão, paraquedistas, além de discursos e ameaças óbvias. Tudo com nova apresentação, new look, e presença inovadora de caminhões, caminhoneiros, agricultores e PMs estaduais fantasiados de garis, para não serem reconhecidos. Isso porque os macacões do uniforme permitem levar armas brancas escondidas. E daria para esfolar alguns comunistas, que só os bolsonaristas sabem onde estão.
Tão grande e bonita ficou a festa organizada pelo cerimonial do Alvorada que Bolsanaro sentiu que Brasília e seus candangos, e ainda os políticos, seria pouco para tal comemoração. E resolveu fazer outro espetáculo em São Paulo, botando pra quebrar. Achava que tinha contas a ajustar com os brasileiros que não lhe seguem o exemplo, e supõem que ele não passa de um sujeito destrambelhado, com mania de grandeza. E adepto da tese: não se reelegeu, o pau comeu.
Um presidente com porte de manda-chuva das três Armas, metido a dominar o país como quiser, teria de se apresentar ao público com um mínimo de grandeza. Daí resolveram, para o desfile, aboletá-lo no Rolls Royce presidencial, presenteado há décadas ao Brasil, pela rainha Elizabeth. Todavia, para dirigi-la teria de ser um motorista famoso, que impressionasse o público. Enfim, não era um carrinho qualquer!
O Chefe do Cerimonial telefonou:
– Estarei falando com o Sr. Nelson Piquet?
– Claro porra, você ligou pra minha casa.
– Céus!! O Sr., por gentileza, aceitaria conduzir o Rolls do presidente Bolsonaro, no desfile da Independência?
– Ô cara, eu topo o convite, mas acho muita frescura. Farei porque gosto dele: acho um presidente muito bem desestruturado.
Depois colocaram 10 crianças no Rolls Royce, todas em torno do presidente e uma no colo, para dar ao conjunto os ares da alegria infantil. Piquet foi descabelado, de camiseta, bermuda e tênis. Porra, só vão ver minha cabeça, pensou. E foram no carrão, todos alegres. Do resto da festa Piquet não participou. E em casa desabafou com a família. “Disseram que era um carrão inglês, mas eu acho que era um transporte escolar, porra!”- desabafou.
O presidente estava brincando com os brasileiros, ao repetir que haveria uma grande revelação no dia da Independência. Uma simples dica que nada esclarecia. Passou-se o dia e nada de novo. Afinal, xingar os outros era era algo que sempre repetia.
Praticamente todos os bolsonáricos foram às ruas para pajear seu chefe, que as vezes sobrevoava o local de helicóptero, histérico, querendo descer em qualquer lugar. Promoveu gritarias, a título de discursos, sobre um único assunto, que todos já sabiam; acabar com os ministros Roberto Barroso e Alexandre de Moraes. E frisou que não segue decisões de nenhum dos dois. Chamou um até de canalha.
Para os bolsonáricos foi a maior manifestação já havida em homenagem ao seu grande chefe. Tudo combinado dias antes do desfile que não haveria. Seria só o povão nas ruas. Ambiente de otimismo exagerado. Muito dinheiro foi aplicado na preparação do happening. E o presidente xingando, xingando, depreciando o Congresso, o STF, o TSE. Comportamento de rotina.
Em São Paulo, saiu pelas ruas pendurado na porta de um dos carros da comitiva. Jamais havia visto tanta gente gritando seu nome. Correu dinheiro solto na programação e nos adereços. Em Brasília surgiram caminhões Scania novos, ainda sem carrocerias, com grandes mastros e a bandeira brasileira. E grande mensagem: “Out of Communism, Brazil with Bolsonaro.”
Havia de tudo naquela mixórdia, porém mais bolsonáricos do que brasileiros civilizados. O presidente jamais se sentira tão realizado. Aquele mundão de gente eram seus seguidores, orgulhou-se. Bolsonaro insultou quem quis e como quis. Por enquanto, os insultados e os outros Poderes fazem apelos em nome da concórdia, do entendimento, do diálogo. Como se estivessem tratando com um líder pacifista.
Na passeata dos bolsonáricos havia admiradores do Cel. Brilhante Ustra, um dos maiores torturadores da ditadura, e de quem o presidente é admirador. Havia gente com a foto do facínora no peito. Segura Brasil: permanecer atento.
— José Fonseca Filho é Jornalista