Em seu manjado jogo de morde e assopra, Jair Bolsonaro aumenta a aposta e dobra o blefe a cada ofensiva, enquanto seus acólitos palacianos se apressam a justificar que ele se dirige a um público específico, os bolsonaristas raiz, com o propósito de mantê-los mobilizados. Na realidade, a ambição do presidente é enquadrar os outros poderes da República para assegurar a sua própria impunidade, a de seu clã e de seus amigos. Estimula movimento golpistas e adoraria que vingassem e atropelassem a democracia para mantê-lo no poder, à revelia de eleições. Mas aí o buraco é mais embaixo.
Bolsonaro sabe disso. Mesmo assim, ele vem subindo o tom na pregação golpista de uma virada de mesa a partir das manifestações bolsonaristas previstas para o dia 7 de setembro. Nessa sexta-feira (3), em discurso no município baiano de Tanhaçu, disse que essas manifestações serão um ultimato para dois ministros do Supremo Tribunal Federal, referindo-se sem citar os nomes a Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso.
— Essas uma ou duas pessoas têm que entender o seu lugar. E o recado de vocês povo brasileiro na próxima terça-feira será um ultimato para essas duas pessoas. Curvem-se à Constituição. Respeitem a nossa liberdade. Entendam que vocês dois estão no caminho errado. Porque sempre dá tempo para se redimir.
E seguiu na mesma toada: “Nós não precisamos sair das quatro linhas da Constituição. Ali temos tudo que precisamos. Mas se alguém quiser jogar fora dessas quatro linhas nós mostraremos que poderemos fazer também valer a vontade e a força do seu povo…Quem dá esse ultimato não sou eu, é o povo brasileiro, povo ao qual todos nós políticos devemos lealdade”. Que povo é esse? A cada pesquisa a popularidade de Bolsonaro, já rejeitado pela maioria da população, derrete ainda mais.
Com esse tipo de pregação, replicada por sua milícias digitais nas redes sociais com ameaças ainda mais explícitas à democracia, Bolsonaro planeja acuar os outros poderes com grandes manifestações na Esplanada dos Ministérios e na Avenida Paulista, que receberão caravanas de todo o país. Nem todas as convocações são para manifestações pacíficas, o que somado à forte arregimentação de PMs e de outras forças policiais, causa preocupação na sociedade civil, nas cúpulas do Judiciário e do Legislativo e até no Alto Comando do Exército.
Bolsonaro sabe que, se as tais manifestações saírem das quatro linhas da Constituição, é ele quem pode se dar mal. Já recebeu todos os alertas. Dá respostas diferentes dependendo do interlocutor. Aos bombeiros, promete atos pacíficos; aos bolsonaristas, põe pilha na radicalização. Mas mesmo aliados estratégicos fazem advertências. “Bolsonaro sabe que é o único a perder se por acaso houver tumulto”, avisa o deputado Arthur Lira, presidente da Câmara, que com um canetada pode abrir o processo de impeachment de Bolsonaro.
Em uma mistura de expectativa com torcida, aposta-se em Brasília em mais um blefe de Bolsonaro. São dezenas que marcam cada passo de seu governo. Alguns com um preço bem salgado para a população, como o de que o governo federal não compraria a Coronavac — comprou a vacina chinesa do Butantan mas com tanto um atraso que, segundo os especialistas, custou a vida de milhares de brasileiros. Nos últimos dias, os presidentes da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, e do Banco do Brasil, Fausto Ribeiro, ameaçaram desfilar os dois banco da poderosa Federação Brasileira de Bancos se a entidade não recuasse do apoio ao manifesto “A Praça dos Três Poderes”, em defesa da democracia. Com o apoio dos bancos privados, a Febraban resolveu pagar pra ver e manteve o apoio ao manifesto. BB e Caixa Econômica recuaram. Restou o blefe para 7 de setembro.
A conferir.