Os quase 148 milhões de eleitores brasilianos têm 13 meses para escolher o presidente da República que governará o Brasil entre 2023 e 2026. Tendo por base as surpresas do pleito de 2018, há tempo de sobra para mudanças no humor do eleitorado.
Desta forma, a melhor maneira de ler a tendência dos eleitores é por meio das manifestações espontâneas, mais consolidadas. A última enquete XP / Ipespe indica que o preferido do eleitor segue sendo o candidato desconhecido.
Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-presidente que dirigiu o País entre 2003 e 2011, garante 28% das menções espontâneas dos eleitores (com viés de alta). Seu principal oponente, Jair Bolsonaro, eleito para presidir o Brasil entre 2019 e 2022, angariou 22% da preferência voluntária.
Considerando a margem de erro (3,2 p.p.), estão tecnicamente empatados. A vantagem de Lula sobressai largamente nas enquetes estimuladas e na rejeição recorde do oponente.
Em busca de um candidato
O número de indecisos lidera o levantamento, com 33% (com viés de baixa). Número suficiente para levar qualquer nome ao segundo turno do pleito de 2022, programado para 30 de outubro; a primeira votação será no dia 2 do mesmo mês.
Lula e Bolsonaro conduzem, cada um, uma fatia mais ou menos bovina do eleitorado. Milhões de eleitores idolatram suas virtudes e ignoram seus defeitos. Estes votantes parecem imunes a qualquer contracampanha que busque impingir pechas como “corrupto” ou “ladrão” a um e outro.
O que sobra, então?
Somados, indecisos (33%) e “outros” candidatos (6%) representam 4 em cada 10 eleitores. Podem correr para um terceiro candidato, melhor definido como moderado desconhecido, pois os extremos já estão ocupados. Ou podem os votantes se dispersar entre um monte de figurantes.
O outro dado relevante trazido pela XP / Ipespe é a percentagem de rejeição. Neste quesito, Lula passa de raspão num provável segundo turno, com 45% de eleitores que nele não votariam “de jeito nenhum”.
Bolsonaro, por seu turno, a persistir o índice atual, de 61% de rejeição, estará vetado num segundo turno. Caso chegue ao turno suplementar, não conquistaria os 50% mais 1 voto necessários. Verbo no futuro do pretérito que, como ensinou Celso Cunha, refere-se condicionalmente a “fatos que não se realizaram”.
Moderado desconhecido
A tendência de Bolsonaro e Lula é a de angariar mais apoiadores – sobretudo se a polarização se mantiver. Já o índice de rejeição pode ser reduzido. Bolsonaro, principalmente, se começar a governar, o que implica, por exemplo, reduzir o desemprego e a carestia. Lula, até aqui, joga no erro do adversário e na memória de seus dois mandatos bem avaliados.
A vantagem de Lula, com base na XP / Ipespe, é evidente. Sobretudo diante da inépcia administrativa e do ostensivo derrotismo de Bolsonaro. Lula, no entanto, ainda é o candidato de um contingente expressivo, mas insuficiente para dar-lhe a vitória – a não ser, talvez, como o menos pior. Tão ou mais relevante, a enquete aponta que o espaço para o moderado desconhecido continua aberto.
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PS I. A presente análise não aborda a possibilidade de golpe de estado reiteradamente manifestada pelo hodierno mandatário, mas a preservação da legalidade.
PS II. A XP / Ipespe realizou 1.000 entrevistas telefônicas entre 11 e 14 de agosto – que (ainda) não têm o mesmo valor da pergunta presencial.
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