De onde menos se espera é que não sai nada mesmo. Os presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, até agora responderam com o silêncio a mais uma investida do presidente da República contra as eleições e a democracia. No Judiciário, todo mundo está de olho no discurso de abertura do semestre do presidente do STF, Luiz Fux, que promete ser duro.
Mas tudo parece seguir a rotina dos últimos tempos: Jair Bolsonaro investe contra as instituições democráticas, diz absurdos, chama de “povo brasileiro”o bando de radicais que colocou nas ruas no domingo e…. fica tudo por isso mesmo.
Os chefes dos demais poderes saem de fininho, ou dão respostas débeis em discursos protocolares e fingem que estamos na normalidade até o próximo arroubo de Bolsonaro. Na semana passada, alguns respiraram aliviados com a nomeação de um dos líderes maiores do Centrão para a Casa Civil: “agora vai”, festejaram esses políticos, talvez acreditando que, no coração o Planalto, conseguiriam acalmar o presidente e tomar conta d tudo. É um engano. Agora tudo vai na mesma direção em que ia antes, se ninguém for além das palavrinhas chocadas e das faces ruborizadas.
Como? Agindo. O Centrão pode ter todos os defeitos do mundo, e representar o que há de pior naquilo que se chama de “velha política”. Mas não é golpista. Seus integrantes são eleitos, e sua atuação na apropriação dos recursos públicos vem azeitando a máquina eleitoral com o objetivo de terem o melhor desempenho possível em 2022, e exercerem seu maior talento: colocar a faca no pescoço do governo, qualquer que seja ele, e ganhar mais. Ao que se sabe, porém, o golpe não está nos seus planos.
Mas o que pode fazer o Centrão? Dar um chega pra lá em Bolsonaro. Afinal, está nas mãos do grupo dar ou não andamento a um processo de impeachment . Se seus integrantes quiserem, o Legislativo pode cercar Bolsonaro e impedir suas tentativas golpistas.
Da mesma forma, o Judiciário pode ir bem além de falar grosso e continuar sendo desrespeitado no dia seguinte. É só dar seguimento de verdade a inquéritos e representações que, às dúzias, correm contra o presidente da República por suas agressões à democracia. O ministro Alexandre de Moraes voltou a colocar para andar na sexta-feira aquele inquérito sobre interferência na PF, parado havia meses.
Foi um sinalzinho, mas há muito mais armas nesse arsenal jurídico, que não estão sendo usadas dentro da lógica da cautela e do respeito aos outros poderes. Não vamos falar em pusilanimidade, mas num código de conduta que respeita as regras da boa convivência. O problema é que quem está balançando o tabuleiro do jogo da democracia, ameaçando rasgar as regras, é Bolsonaro. E, para mantê-lo no lugar, discursos protocolares não resolvem mais. É preciso agir.