O ex-presidente Lula voa em céu de brigadeiro; o presidente Jair Bolsonaro, no seu teco-teco, está em meio a uma nuvem cumulunimbos, enfrentando tormentas e trovoadas. Aliviado de suas condenações e processos, o líder petista ainda está na lua de mel com a opinião pública. Já o presidente está matando no peito toda a carga negativa da pandemia, do desastre das vacinas, dos números de mortos e já vê chegando a seu colo os incêndios florestais da temporada da seca. Ou seja: é o pior momento de seu mandato, indicam os resultados de pesquisas. Lula trafega sobre uma base superior a 50 por cento de intenção de votos para as eleições de 2022.
Nos meios profissionais, os marqueteiros não estão muito impressionados com os índices de aprovação e, mesmo, com os de rejeição. Tudo pode mudar quando a luta eleitoral entrar para valer. É aí que mora o perigo: Bolsonaro está muito preocupado com as acusações de corrupção na compra de vacinas, que pousaram na CPI da Covid do Senado.
Esta denúncia colada nele e amplificada desmedidamente é uma cunha num espaço considerado essencial pelos marqueteiros do presidente: “zero corrupção” é seu lema. Portanto, não importa que a tal denúncia venha de um parlamentar suspeito (Luis Miranda), que atirou pelas costas. Ou um “ouvi dizer”, “alguém falou”, no caso da denúncia de envolvimento do paranaense Ricardo Barros, líder do Governa na Câmara dos Deputados, tudo dito nos verbos no tempo condicional. Saindo da CPI ganha uma força extraordinária e pode complicar.
A pecha da corrupção eles estavam reservando para gastar em cima do ex-presidente Lula, revolvendo os números bilionários dos escândalos do Mensalão, Petrolão e dos imóveis adquiridos ou oferecidos ao ex-presidente da República pelo PT. Também não importa em nome de quem estejam registrados, vão colar a propriedade no ex-presidente Lula da Silva. A denúncia de maracutaia na importação da vacina indiana pode desmontar esse bloco monolítico de argumentação e proselitismo. Daí o pânico de Bolsonaro, as ameaças do ministro Onyx Lorenzoni e o nervosismo no Palácio do Planalto.
Já no outro lado, nos arraiais petistas, a oportunidade da denúncia na CPI não foi bem acolhida, pois pode turvar o céu limpo em que Lula viaja pelo Brasil. Corrupção é uma palavra perigosa. Como se diz: não se fale em corda em casa de enforcado.