Pela etmologia, Luana é um nome com bons significados. O que achei mais preciso diante da brilhante e competente aula de ciência dada pela infectologista Luana Araújo na CPI da Pandemia foi “combatente gloriosa cheia de graça”. Ela deu um freio de arrumação no jogo mal ajambrado dos governistas de apresentarem a ineficaz terapia precoce com cloroquina e outras drogas como alternativa ou complemento às vacinas.
Foi uma basta nessa equivocada aposta do governo Bolsonaro em uma loteria bancada por curandeiros da pior qualidade — a daqueles cujas indicações foram testadas e comprovadas a ineficácia delas. Pior, elas podem causar sérios efeitos colaterais aos que supostamente se beneficiariam dessa trapaça com a ciência. Uma lástima.
A principal contribuição da doutora Luana Araújo à CPI da Pandemia foi a separação do joio do trigo. A ciência não é uma questão de opinião. Não se trata de acreditar nisso ou naquilo, como Bolsonaro desde o início da pandemia e seu bando de puxa-sacos preconizam. É um campo do conhecimento humano que as versões não importam, o que vale são as evidências científicas comprovadas por fatos. As vacinas e outros medicamentos eficazes para salvar vidas são as maiores provas disso.
A estratégia palaciana que, por todas as indicações, é fruto do feeling do clã Bolsonaro, em especial das sacadas do vereador Carlos Bolsonaro, se baseia no sucesso de que confundir é a melhor comunicação. Por mais incrível que pareça, a jovem e técnica Luana Araújo também pôs uma pá de cal nessa narrativa de duas ciências; ou é ciência, ou não é. Nas áreas médicas e farmacológicas, que salvam e matam, são décadas, séculos e até milênios de aperfeiçoamento. É uma forma de moto-contínuo. O que não é eficaz e até mata fica pelo caminho. É descartado.
Na turma que alimenta as loucuras do bolsonarismo ainda há defensores de que o planeta Terra é plano, séculos depois de Galileu, um dos maiores gênios da humanidade, provar que a Terra é redonda e gira em torno do Sol — em uma incontestável refutação da doutrina aristotélica que apontava nosso planeta como centro do universo. Por causa de todos os avanços científicos posteriores hoje se sabe que o nosso planeta é um grão de areia em um mundão praticamente infinito.
Cerca de três horas depois do depoimento de Luana Araújo na CPI da Covid, apareceu em rede nacional de rádio e televisão um irreconhecível Bolsonaro. Não deu nem um pio para justificar porque recusou nomear a doutora Luana para cuidar da pandemia no Ministério da Saúde, indicada para a função pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. Ela poderia ter sido a última tábua de salvação da desastrada gestão presidencial da pandemia.
Mesmo assim Bolsonaro acusou o golpe e, em seu sóbrio pronunciamento, não recorreu a nenhum dos seus maluquetes improvisos das lives semanais e no cercadinho do Palácio Alvorada. Leu um texto no teleprompter em que se apresentava como um governante empenhado em vacinar os brasileiros. E se esforçou a vender como róseo o atual momento do país por causa de uma ligeira melhoria no desempenho econômico em meio a uma grave e múltipla crise, com uma epidemia ainda descontrolada, desemprego e fome. Mereceu o mega panelaço país afora.
Infelizmente, é isso.