Quando foi anunciado o resultado da eleição presidencial de 2014, a Presidente eleita foi para o espaço de comemoração e fez discurso para a militância que urrava pela vitória. É comum em eleições disputadas que o governante eleito faça um discurso de conciliação, sinalizando que é Presidente de todos, de forma a pacificar o país e reduzir o clima pesado de campanha. Assim fez Biden na recente eleição americana e assim deixou de fazer a Presidente brasileira, mantendo o clima de racha no país, um acirramento do nós-contra-eles iniciado por Lula e mantido em sentido inverso por Bolsonaro, postura típica de governos populistas de esquerda e de direita.
Governos populistas gostam dessa postura, assim como pretendem falar diretamente ao povo, por cima das instituições que, se não são as ideais, são trocadas, nos seus personagens, periodicamente em regimes democráticos. Populistas rejeitam ou tentam comprar o Congresso, se insurgem contra o STF e propõem ações contra a imprensa, enquanto evitam reformas econômicas necessárias, porém impopulares.
O Brasil precisa de uma pauta pacificadora de centro, mas que seja também pragmática para angariar votos à direita e à esquerda.
É possível atender às demandas de uma direita liberal com reforma tributária, privatizações, concessões de serviços públicos, desburocratização, racionalização de licenças ambientais e efetivo combate ao desmatamento, política de segurança abrangente e efetiva, inclusive evitando invasões de terras. É também possível conciliar isso com atendimento de pautas de esquerda não corporativista para programas de transferência de renda focados, programas para educação onde a escola do pobre seja igual à do rico, melhorias no atendimento básico de saúde.
Uma pauta de centro não quer dizer equidistância dos polos, ou pauta de isentões, mas algo que atenda aos dois polos e que possa gerar crescimento da economia, geração de emprego e renda, eliminação da pobreza e redução da desigualdade social.
A pauta deve incluir temas que interessam, ou deveriam interessar, a todas as correntes, como uma política rigorosa de combate à corrupção e uma política de segurança que não seja rasteira apenas para armar a população e enfrentamento com a polícia. Segurança passa por pressão diplomática nos países produtores e consumidores de drogas, inteligência e preparo das polícias, controle de fronteiras, portos e aeroportos, justiça mais rápida, descriminalização ou penas alternativas para pequenos delitos que evitem a formação de criminosos profissionais nas cadeias e outras que especialistas sabem propor. Mas, principalmente, uma política de segurança deve providenciar uma ocupação social pelo Estado nas comunidades controladas pelo tráfico.
Na economia, equilíbrio fiscal é mandatório e as diferenças sobre política industrial e abertura da economia podem ser tratadas com posições conciliatórias acordadas em uma pauta mínima inicial, mas que enfrentem atitudes atrasadas de ambos os lados.
A pauta de costumes pode avançar pela disseminação do entendimento puxado por grandes empresas nacionais e multinacionais de que diversidade não é apenas um resgate social, mas também fundamental para a inovação e competitividade das empresas.
E, para o problema-raiz do nosso futuro, é fundamental entender corretamente os grandes desafios da educação: jovens que não aprendem o que deveriam aprender, professores sem formação adequada, baixos salários, falta da escola de tempo integral, diretores escolhidos politicamente, falta de creches, alta evasão, falta de ensino profissionalizante, baixo número de alunos STEM (Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática), escolas depredadas.
Esquerda e direita existem em todos os países. Um lado não vai conseguir fazer o outro desaparecer. A ditadura militar tentou e a esquerda voltou forte depois. Mais recentemente a esquerda tentou avançar na sua pauta sem perceber um conservadorismo real na população, que reagiu e colocou a direita de volta.
Enfim, o país precisa de pacificação, com políticas que atendam a maioria da população e preparem o futuro, ou os confrontos irão para a rua, para prejuízo de todos.
P.S. “Política é a arte de fazer junto” Bruno Covas