A operação da Polícia Federal que, na manhã desta quarta, fez ações de busca e apreensão em endereços do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, decretou a quebra de seus sigilos bancário e fiscal e afastou um punhado de auxiliares dele sob acusação de corrupção ligada à exportação de madeira ilegal, já teve um claro desdobramento político: tirou de vez das mãos de Jair Bolsonaro a bandeira anticorrupção nas eleições de 2022.
Um de seus ministros prediletos, que vem sendo protegido por Bolsonaro contra as mais diversas pressões por sua demissão, Salles está sendo investigado em pleno exercício do cargo. Seu gabinete, em Brasília, foi objeto de busca e apreensão.
E não dá para alegar fundamento político na apuração, que não parece ter a ver com o confronto entre o ministro e o ex-superintendente da PF no Amazonas, Alexandre Saraiva, afastado do cargo depois de acusá-lo de proteger madeireiros e desmatadores. É um caso de colaboração entre as polícias brasileira e dos EUA, iniciado em janeiro a partir de fatos referentes à exportação de madeira extraída ilegalmente para os Estados Unidos.
Politicamente, o episódio é uma das pontas de um triplo desgaste para o Planalto no mesmo dia, com a ida do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello à CPI da Covid no Senado e a repercussão do depoimento em que, na véspera, o ex-chanceler Ernesto Araújo responsabilizou todo mundo – menos ele – pelas ações junto a outros países para compra de cloroquina.
O conjunto da obra leva alguns a embarcar em teorias conspiratórias e supor que a ação da PF tenha sido planejada para desviar o foco e os holofotes do depoimento de Pazuello. Se foi, foi um tiro no pé. Ter o seu ministro do Meio Ambiente envolvido num “grave esquema de facilitação ao contrabando de produtos florestais”, segundo palavras do ministro do STF Alexandre Moraes, pode ser, para Bolsonaro, tão ruim como ver sua atuação na pandemia esquadrinhada pela CPI.
Já nas primeiras horas da manhã de hoje, aliados do presidente da República lamentavam sua resistência em manter Salles no governo esse tempo todo, mesmo após uma sequência de desgastantes episódios envolvendo o ministro e a clara oposição internacional à sua gestão. Bolsonaro podia ter passado sem essa – dizem. Ninguém se arrisca, porém, a prever o que vai acontecer com a cabeça