As pedaladas de Dilma Rousseff, que justificaram seu impeachment, parecem coisa de trombadinha diante de crimes muito mais graves atribuídos ao governo Bolsonaro. Eles são escancarados. O caso Tratoraço, por exemplo, é um escárnio, com agravantes nunca vistos nos múltiplos escândalos com o Orçamento da União ao longo de décadas, desde os Anões do Orçamento no começo da década de 1990 aos Sanguessugas muitos anos depois.
O que é original nessa nova trapaça com dinheiro público? São as canetadas inconsequentes de Bolsonaro. Primeiro, ele vetou “por contrariar o interesse público” a ostensiva malandragem em uma tal RP-9, inventada pela turma que assessorou o senador Márcio Bittar na feitura e aprovação de um Orçamento carente de sustentação dos pés a cabeça. Pois bem. Esse veto continua em vigor, sequer foi apreciado pelo Congresso Nacional.
Mas o tempo passa, a corrupção voa. De acordo com a excelente cobertura desse caso pelo Estadão, deputados e senadores enviaram 101 ofícios, baseados em uma legislação vetada pelo presidente Bolsonaro, e foram atendidos pelo Ministério do Desenvolvimento Regional, chefiado por Rogério Marinho, o “fura-teto” na definição de seu colega e adversário Paulo Guedes.
Não se trata de um trocado. São R$ 3 bilhões. Gastos ao bel prazer dos parlamentares contemplados. A justificativa política é que foi o preço pago para as vitórias de aliados de Bolsonaro nas eleições para as presidências da Câmara e do Senado. Se foi assim, nunca antes um presidente da República foi tão incompetente na compra de apoios parlamentares.
Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, foi acusado de compra de votos para a aprovação da emenda da reeleição, que o beneficiou. As supostas provas eram frágeis e obtidas em gravações capengas. Por mais que as suspeitas tivessem ares de verdade, nada as ligavam diretamente ao Palácio do Planalto. Com Lula foi diferente. O Mensalão abriu um caminho que de fato comprometeu seu governo na compra de apoios parlamentares.
Dilma Rousseff, por mais que por conveniência tenha feito vista grossa aos escândalos da Lava Jato, não caiu por nenhum deles. Além do pano de fundo do desastre de seu segundo mandato, com as pedaladas se enquadrou nas punições previstas na Lei de Responsabilidade Fiscal.
Jair Bolsonaro, que se acha rei do império chamado Brasil, simplesmente não se considera submetido às leis da República. Toda vez que as instituições republicanas, como o Supremo Tribunal Federal e o Congresso, podam suas extrapolações, ele e sua turma chiam. Para eles, não há pode haver limites ao exercício do poder executivo de Bolsonaro, nem pela Constituição e leis em vigor.
E o que é pior. Bolsonaro vai se submeter às urnas ano que vem. Pelo andar da carruagem vai ser descartado no primeiro ou no segundo turno, mas desde já recusa a derrota. É um forte indício de um jogo desvairado pela sua manutenção no poder.
A conferir.