Em qualquer movimento político, social, econômico ou em caso de desastres naturais de grande monta, logo aparece uma figura que faz subir ou cair o dólar, a bolsa ou o risco país e anima ou desanima investimentos. Essa figura, mal compreendida, é o tal mercado, que muitos consideram uma força do mal, desvinculado do mundo produtivo e dominado por inescrupulosos banqueiros, de preferência internacionais.
Ainda hoje existe um desconhecimento de como funciona esse tal mercado e muitas cabeças formadas nas visões simplórias da economia planejada ainda resistem a entender o papel das iniciativas individuais, das expectativas e da lei da oferta e da procura.
O mercado é apenas o conjunto de empresas, fundos, instituições em geral e pessoas físicas que procuram alocar seus recursos disponíveis em investimentos, projetos, empresas ou papéis que lhes deem uma remuneração interessante de forma segura, no presente ou no futuro.
Como imaginar o setor produtivo da economia sem esse mercado? Quando uma empresa toma um empréstimo no banco para financiar seu crescimento é o mercado que está disponibilizando a poupança que alguém depositou lá. Quando uma empresa lança ações na bolsa, para se financiar, é o mercado que compra com seus fundos de pensão, fundos de ações ou diretamente com os investidores individuais que não precisam mais da intermediação de bancos. Quando um governo licita uma concessão de estradas ou um poço de petróleo ou quando pretende privatizar alguma empresa, está lá o mercado comparecendo com as empresas do setor ou os fundos interessados na possível rentabilidade do negócio.
O mercado aposta, arrisca, acredita, desconfia, prevê, tem coragem, tem medo, avança, recua, inova, lidera, segue manada e com isso gera riqueza, empregos, trabalho e renda. O mercado é apenas a resultante da ação simultânea de todas essas forças alimentadas por expectativas, inclusive com especuladores e os manipuladores, que devem sempre ser combatidos.
O preço de uma ação sobe ou desce em função do valor que se atribui a ela a partir das expectativas de lucro futuro, assim como as decisões de investimento são feitas pensando se as perspectivas da economia e daquele setor são boas ou ruins ou se o empreendedor é confiável. O mal falado mercado é que salva governos que gastam mais do que arrecadam e precisam se financiar. O Tesouro Direto coloca esses papéis do governo disponíveis para quem quer investir e o governo deve prometer os juros que compensem o risco, como hoje no Brasil, onde a dívida já atinge perigosos 90% do PIB.
Os desinformados reclamam que o Brasil gasta muito com juros, pedem até uma auditoria da dívida, que não está principalmente na mão de banqueiros internacionais como pede a paranoia, mas na nossa mão mesmo que investimos nos fundos de renda fixa. É melhor reclamar que o governo gasta mais do que arrecada e precisa tomar emprestado. Ainda bem que existe o mercado para emprestar.
Essas observações levam a algumas conclusões: o mercado somos todos nós aplicando recursos; as baixas taxas de juros atuais fizeram os investidores procurar investimentos mais variados com risco; o mercado está envolvido sim na produção e não apenas gerando lucros em atividades improdutivas; o mercado é alimentado também pelas necessidades do governo – quanto maior a dívida do governo, mais juros e menos incentivo para novos negócios.
Enfim, o mercado é movido pelas expectativas de cada um sobre o futuro, inclusive daqueles que são contra o mercado.