Quando um filhinho do papai presidente da República indica um novo ministro, do qual é amigo pessoal, para integrar o governo como ministro do setor mais espinhoso no momento, algo ainda mais estranho começa a acontecer no país. Flávio Bolsonaro, alcunhado de 01, tido como político devido ao mandato de senador, demonstra competência para o comércio de chocolate, negócios imobiliários, atividades financeiras (“rachadinhas “) e, agora, descobridor de talentos para o serviço publico.
Chega outro ministro mas nada vai mudar, garante o presidente, repete o ex-ministro e introdutor do seu sucessor na corte bolsonarista. O novato já afirmou dez vezes que “o ministro faz o que o presidente manda”. E acrescenta: “Entenderam?” Os brasileiros estão chocados com o que o presidente manda, mas realmente não conseguem entender. Estão sofrendo e morrendo. Pazuello saiu meio frustrado, mas o presidente não abandonou seu amigo e ex-ministro, que ficou ao seu lado até o adeus final. Caberá ao 01 arranjar outro emprego para ele, depois do ministério.
A cardiologista Ludhmila Hajjar saiu do episódio decepcionada, mas certa de que adotou a melhor decisão: voltar para suas atividades profissionais, na qual é destaque pela seriedade e competência. Mas foi levada pelo Flavio O1 e o ainda ministro Pazuello para conversar com Bolsonaro. Já sentia princípio de náuseas mas não pôde evitar. O 01 levou sua segunda indicação, para apresentar ao papai já a tendo descartado antecipadamente.
O presidente, o filho e o ainda ministro disseram-lhe tudo que não deveria fazer, e nada do que precisaria realizar, pois não entendiam do assunto. O que não deveria fazer era ir contra as ideias do presidente, que ainda estava com a mente na “gripezinha”, enquanto quase 300 mil brasileiros morriam. E bebia uns goles de hidroxicloroquina, xarope ordinário por ele defendido e condenado pelos cientistas. A indicação de Marcelo Queiroga, cardiologista, foi aceita pelo papai-presidente. A Dra. Ludhmila teria mais surpresas desagradáveis: além dos palavrões presidenciais ouvidos, mensagens violentas de ataques e ameaças contra sua segurança. Remetidas via eletrônica pelos fascistóides estimulados pelas hordas bolsonarísticas.
O Brasil sem recursos e a população apavorada, os hospitais abarrotados de futuras vítimas – ainda tem oxigênio? – aguarda a atuação do quarto ministro da Saúde. Que já disse a que veio: fazer o mesmo que o antecessor. Obrigar o presidente a usar máscara, apoiar lockdowns, impedir aglomerações, se conseguir isso já seria o básico, para Queiroga.
O novo ministro não deixou impressão boa ao presidente, mas agradou porque já se apresentou como serviçal, e ainda teria um filho para vigiá-lo. O quarto ministro, por mais que se tenha preparado, de maneira geral não deixou boa impressão. Assim como no Congresso, onde boa parte dos parlamentares ficou decepcionada. Esperavam o quê, de um governo decepcionante? E ainda levou mais um militar, de todos que procura favorecer em cargos públicos, à desmoralização.
— José Fonseca Filho é jornalista