Ao recursar o convite para assumir o Ministério da Saúde, a cardiologista Ludhmila Hajjar mostrou que não adianta trocar o titular da pasta, tem que mudar o presidente. Ao relatar apenas sua justificativa pela decisão, sem querer ela revelou que o presidente mantém sua posição de defender a economia em detrimento da vida da população.
Pressionado por todos os lados, inclusive pelos fatos, para demitir o subserviente general Eduardo Pazuello, Bolsonaro tenta enganar a plateia fingindo que vai colocar alguém capaz no lugar do capacho. Pura balela. Ele quer mesmo é manter um ministro de faz de conta à frente da pasta e possa continuar tomando as decisões de acordo com o seu pensamento torto.
Se quisesse de fato tratar a pandemia com seriedade, aquele que ocupa a cadeira presidencial teria apoiado as ações do seu ministro Luiz Henrique Mandetta, que ganhou a confiança dos brasileiros por sua atuação no início da pandemia. Mas o que fez Bolsonaro: boicotou de todas as formas o seu próprio ministro e depois o demitiu. O médico Nelson Teich, substituto de Mandetta, também foi desrespeitado pelo presidente durante sua curta passagem pelo ministério, até pedir demissão por não concordar em adotar a cloroquina como medicamento a ser distribuído para o tratamento da covid, como queria Bolsonaro.
No início da noite, Bolsonaro confirmou o nome do médico paraibano Marcelo Queiroga para substituir Pazuello. Presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia, amigo de Ludhmila, em abril do ano passado tentou levar ao então ministro Luiz Henrique Mandetta um novo protocolo que estava sendo utilizado na Itália para os pacientes cardíacos infectados pelo coronavírus.
Ligado ao líder do Republicanos na Câmara, deputado Hugo Motta, – um dos principais aliados do presidente Arthur Lira – Queiroga assume com as bênçãos do Centrão. A única dúvida é se, apesar desse apoio de peso, conseguirá impor seu estilo no ministério ou será apenas mais um a ser humilhado publicamente por Bolsonaro.
A pasta da Saúde sempre foi uma das mais cobiçadas da Esplanada, especialmente por causa do seu gigantesco orçamento. Agora, quem tem um nome a zelar dificilmente aceitará a vaga de Pazuello. E não é só pelo amontoado de problemas que vai enfrentar como a falta de vacina, o colapso no sistema de saúde em quase todos os estados, o risco de falta de oxigênio, entre outros.
O maior problema será conseguir se impor perante um presidente autoritário e negacionista. A troca de comando não mudará os fatos de que o verdadeiro ministro da saúde é o próprio Bolsonaro.
É grave também perceber que as ideias de Bolsonaro são compartilhadas por um séquito de imbecis capazes de absurdos como fazer manifestação com buzinas em frente a um hospital, como aconteceu no Rio Grande do Sul, ou ameaçar a doutora Ludhmila, como foi relatado por ela durante entrevista. Coisa de gente doente.
Não há como se iludir. O próximo ministro não terá a mínima autonomia para decidir qualquer coisa, nem com base na ciência e nem com base no bom senso.