Só os ingênuos acreditam que Jair Bolsonaro não gostou da decisão do ministro Edson Fachin de anular todas as condenações do ex-presidente Lula na Lava Jato, colocando-o novamente na disputa pela presidência da República em 2022 e antecipando o calendário eleitoral.
Em campanha desde o primeiro dia de mandato, a decisão de Fachin devolveu a Bolsonaro o discurso de radicalização que ele havia perdido por causa do estelionato eleitoral que cometeu, reacendendo o interesse da militância em torno do mito. Mais que isso: o Supremo fez o favor de desviar o foco da população de alguns temas incômodos para o governo, como a mansão de R$ 6 milhões do senador Flávio Bolsonaro e os sucessivos recordes no número de infectados e mortos pelo coronavírus País afora.
Há tempos o “gabinete do ódio” não conseguia emplacar nenhuma hashtag nas redes sociais. O estelionato eleitoral de Bolsonaro foi tão grande que até os devotos mais perseverantes já não sabiam mais quem defender ou atacar com tamanha mudança de postura.
Afinal, é sempre bom lembrar que Bolsonaro foi eleito prometendo acabar com a corrupção e com a chamada “velha política”. Não fez nenhuma coisa nem outra. Ao contrário, destruiu a Lava Jato, e hoje anda de braços dados com os corruptos de outrora, antigos aliados dos governos petistas.
Para Lula, Fachin além de devolver os direitos políticos e reacender a militância petista, que andava macambúzia, ainda entregou de bandeja o discurso de vítima que o ex-presidente tanto queria. Só não sei se ele vai conseguir convencer os 57,5% dos brasileiros que disseram ser contra a decisão de Fachin, segundo levantamento feito pela Paraná Pesquisas publicada no portal Poder 360.
A disputa entre os dois sempre foi o desejo de ambos, que apostam mais na rejeição do que na devoção. À primeira vista, o discurso de Lula parece ser mais fácil, afinal, o governo Bolsonaro é um verdadeiro desastre em todos os aspectos: economia, saúde, educação, meio ambiente, etc.
A questão é que ainda restam a Bolsonaro quase dois anos com a bic na mão. E isso não é pouco. Se ele acertar o uso da caneta, o que é bem difícil, o jogo pode virar. Não se pode subestimar quem tem o poder na mão.
Enquanto isso, os dois monopolizam as redes sociais para tentar ganhar mais adeptos na guerra de narrativas. E, se for preciso, vão se unir para destruir a reputação de qualquer nome que possa ameaçar o segundo turno entre eles.
Enquanto isso, milhares de brasileiros vão morrendo com falta de ar nos hospitais e povo discutindo uma eleição que só vai acontecer em outubro de 2022.