O ministro Gilmar Mendes montou o cenário para a condenação pelo STF da suposta parcialidade de Sérgio Moro nos julgamentos de Lula — roteiro sob medida para abrir a porteira e deixar passar toda a boiada flagrada, processada e condenada pela Lava Jato. Com a troca do decano Celso de Mello por Kassio Nunes, indicado numa parceria entre Jair Bolsonaro e o Centrão, Gilmar ficou com a faca e o queijo na mão na Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal.
A ficha de Fachin finalmente caiu. Ele entendeu que o cenário na Segunda Turma era de terra arrasada para Sérgio Moro e a Lava Jato. O pretexto seriam as penas aplicadas contra Lula por corrupção e lavagem de dinheiro. A alegação principal são os diálogos da Operação Spoofing, aquela que apurou uma obscura investida de hackers sobre as trocas de mensagens entre procuradores de Curitiba e o próprio Moro.
Depois de sucessivas derrotas, Edson Fachin pôs uma surpreendente carta da mesa. Com uma canetada, anulou os processos contra Lula julgados em Curitiba e declarou extintos todos os habeas-corpus e reclamações no Supremo pela defesa de Lula. O principal deles é o pedido para que Moro seja condenado por uma suposta parcialidade nos julgamentos. A eventual condenação de Moro pode abrir uma avenida para políticos, empresários e executivos condenados por corrupção, muitos réus confessos, e que já devolveram bilhões de reais aos cofres públicos.
Com sua manobra, Fachin quer superar o cerco na Segunda Turma e levar a questão diretamente ao ao plenário do STF, onde tem chances reais de vitória. O mote será o recurso já anunciado pela Procuradoria-Geral da República. No entorno de Gilmar Mendes, a avaliação é de que Fachin não combinou com os russos.
Com seu estilo trator, que atropela os colegas a torto e a direito, Gilmar parecia decidido nessa segunda-feira à noite a pautar hoje na Segunda Turma a questão sobre a parcialidade de Moro. Ele sabe que ali tem maioria. Conta com os colegas Ricardo Lewandowski, muito ligado à família de Lula, e Kássio Nunes Marques, escolhido por Bolsonaro.
Na prática, portanto, ministros do STF identificados com Bolsonaro e Lula são os votos que podem, hoje, condenar Moro, inimigo dos dois presidenciáveis que querem tirá-lo do páreo para o Palácio do Planalto. Se conseguirem por alguma razão legal, será uma grande ironia — o juiz que julgou corruptos seria impedido por ter condenado o ex-presidente Lula por uma penca de escândalos, entre eles, o tríplex do Guarujá e o sítio de Atibaia.
Tendo também Bolsonaro como pano de fundo. Há dezenas de pedidos de impeachment na Câmara, alguns bem fundamentados, mas o que vale é o jogo do presidente contra uma suposta candidatura presidencial de Moro, que poderia dividir seu eleitorado, e a mágoa porque seu ex-ministro da Justiça não usou o cargo para salvar seus encrencados filhos.
A questão agora no STF é que sua crise interna está a ponto de transbordar. Na prática, Gilmar se sente o dono do tribunal. Talvez seja a hora do ministro Luiz Fux por alguma ordem na Casa.
A conferir.