Não me recordo de presidente da República tão alheio à vontade do povo como Jair Bolsonaro. Ele e os asseclas que o prestigiam, na insensata campanha contra a vacinação, deveriam procurar conhecer os anseios e as necessidades da população.
Isolados nos gabinetes do Palácio do Planalto, desde que chegaram ao Poder tripudiam da opinião pública. Assumem postura imperial, negacionista e anticientífica. Recusam-se a aceitar a verdade e admitir como sensatas as recomendações dos infectologistas, para a prevenção contra o coronavírus.
Na manhã do sábado (27), fui ao autódromo de Interlagos. Deixei o apartamento de automóvel às 7 h, para chegar por volta de 7:40. Percorri mais 2 km até encontrar o final da fila. Metro a metro atingi o local da vacinação. Registre-se o comportamento civilizado de todos que aguardavam a vez. Recebi a vacina às 11:30. Ao sair, a fila dava volta de quilômetros em torno do autódromo. Observei as pessoas esperando com paciência franciscana. Eram milhares de idosos, na faixa entre 80 e 84 anos, conduzidos por filho, filha, parente ou amigo, aguardando pelo momento de tomar a vacina.
O povo acredita e exige ser vacinado. Não interessa se as vacinas procedem da China, do Reino Unido, da Índia, pois todas são avalizadas por cientistas do Instituto Butantã ou da Fundação Oswaldo Cruz. O governo federal deve abandonar a atitude irracional de resistência e adquirir, com sobras, a quantidade necessária. Se há dinheiro para comprar votos na Câmara dos Deputados e no Senado, deve haver para vacinação em massa.
O Brasil contabiliza mais de 250 mil mortos, com média móvel de 1.168 óbitos diários e 10,5 milhões de infectados. Nas capitais e grandes cidades não existem vagas em unidades de terapia intensiva (UTI). A responsabilidade recai, em primeiro lugar, sobre o presidente da República, por insistir, desde o início da pandemia, em dar péssimos exemplos à população. Cabe, também, à parcela irresponsável que se nega a usar a máscara e insiste organizar baladas, bailes funks, pancadões.
Sendo, embora, um dos últimos países a colocar em prática plano de vacinação, o Brasil vacinou até agora 6,5 milhões. Faltam cerca de 210 milhões. Quando chegará a vez dos jovens de idade entre 18 e 25 anos? Só Deus poderá responder, já que o governo federal insiste em politizar a aquisição.
O presidente Jair Bolsonaro transmite a ideia de que pretende destruir o Brasil.
Nas relações exteriores mantém chanceler desprestigiado. Na economia adota agenda intervencionista, como o fez destituindo o presidente da Petrobrás, para colocar no lugar general do Exército. Está atritado com o presidente do Banco do Brasil. Nas bolsas de valores as ações despencam e revelam o elevado grau de desconfiança dos mercados nacional e internacional. A taxa de desemprego não cede, aumenta o custo de vida e tudo indica que teremos de volta a inflação.
Como emergir da crise econômica, política e social, com presidente que insiste em fazer tudo errado? Só Deus saberia dizer.
— Almir Pazzianotto Pinto é Advogado. Foi Ministro do Trabalho e presidente do Tribunal Superior do Trabalho