A proposta sem-noção de extinguir o piso constitucional de recursos para a saúde e a educação na PEC fiscal que vai prever a retomada do auxílio emergencial tem pouquíssimas chances de ser aprovada — e ninguém que conheça um mínimo de Congresso diria outra coisa. Isso certamente inclui os presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, aparentemente recém-convertidos à cartilha liberal, que evitam dar notícias ruins em público ao ministro Paulo Guedes e equipe e prometem tocar sua pauta.
Lira e Pacheco aceitam as propostas do governo, ouvem com atenção, posam ao lado do presidente, como ontem na entrega da MP que privatiza a Eletrobrás — outra sem futuro. Por trás de seus sorrisos de Monalisa escondidos pelas máscaras, porém, sabem que ajuste fiscal, a esta altura, é sonho de uma noite de verão. Uma ou outra proposta mais leve, como a que dispara os gatilhos para congelar salários do funcionalismo e outras despesas, pode até sair. E mais nada. Nem de longe, por exemplo, a possibilidade de redução de jornadas e salários de servidores, já retirada do texto pelo relator Marcio Bittar.
Mas o que os neoneoliberais que comandam o Congresso hoje sabem também é que, neste momento, o que importa, sobretudo para Guedes, é a narrativa. Depois que Jair Bolsonaro chutou o pau da barraca da Petrobras, passou a ser mais importante ainda, para o enfraquecido ministro da Economia, sinalizar aos mercados que algum ajuste, um mínimo cuidado fiscal, está sendo tomado. Mesmo que não seja real — como não é.
Tudo é questão de discurso, ao menos para quem não quer passar a ideia de que um auxílio emergencial fora do teto e sem impacto na meta fiscal do ano representa desvio da cartilha liberal, como Guedes. E por que não entrar no jogo? Satisfeitos da vida, anfitriões de um presidente que agora não sai do Congresso e, acima de tudo, com a faca e o queijo das nomeações federais nas mãos, Arthur Lira e Rodrigo Pacheco encenam um final feliz — ao menos para eles…