Foi emocionante ver a enfermeira paulista Mônica Calazans receber a primeira dose da vacina Coronavac em solo brasileiro. Um dia histórico. Mas é preciso encarar a realidade e entender que, no curto prazo, nada muda para a grande maioria da população, que não está entre os cerca de três milhões desse primeiro grupo (são seis milhões de doses, duas para cada um) que, com muita justiça, serão imunizados nos próximos dias no país.
Não tem vacina para todo mundo, e é muito certo que os profissionais da saúde os idosos sejam os primeiros a receber. Mas nem esses grupos serão esgotados nessa primeira leva, e vamos continuar a acompanhar e somar doses, que aos poucos serão fabricadas ou chegar do exterior. O governo João Doria deu uma lição – não só política, mas de gestão – ao governo federal, mas será que isso tornará Eduardo Pazuello mais eficiente? Com Jair Bolsonaro, cheio de ódio e obscurantismo, já não dá para contar mesmo. O Brasil vai se vacinar à revelia de seu presidente.
Talvez o desafio maior das autoridades agora não seja bater bumbo politicamente sobre a chegada da vacina. Talvez nem mesmo fazer a ampla e necessária campanha de esclarecimento da população sobre ela – explicando que as duas doses são absolutamente necessárias, que não dá para tomar a primeira dose de uma e a segunda de outro tipo, quem é elegível para se imunizar, etc…
A ação mais urgente do poder público continua sendo o dever de casa que a maioria dos governantes não está fazendo: tomar medidas enérgicas para manter o distanciamento social e controlar a propagação do vírus. Os números de mortes e infectados diários continua subindo assustadoramente, e não há vacina que salve os que vão morrer amanhã, daqui a quinze dias ou até daqui a um mês.
O oba-oba da vacina não pode substituir as medidas para conter a pandemia hoje, e nem escamotear situações como a de Manaus, onde vidas foram perdidas por falta do oxigênio que não foi providenciado pela incompetência dos governantes.