O caos instalado nos hospitais de Manaus por falta de oxigênio hospitalar é o retrato da incompetência e do descaso dos governantes brasileiros com a população. O drama vivenciado pelos manauaras é consequência de uma série de erros de políticos nos âmbitos federal, estadual e municipal. Não há como livrar a cara de ninguém nessa carnificina que o mundo assiste atordoado.
Da parte do Governo Federal, nem precisa comentar. O negacionismo de Bolsonaro é assustador. Boicotou toda e qualquer ação de combate à pandemia proposta pela sua própria equipe de governo; provocou e ainda provoca aglomerações nas ruas; estimula o uso de medicamentos sem eficácia comprovada e negligenciou a vacina.
Enquanto o mundo começou a imunizar sua população há quase um mês, só agora que o Brasil anuncia o calendário de vacinação, isso mesmo com uma quantidade de doses inferior ao mínimo necessário para atender os grupos prioritários e com o número de seringas e agulhas insuficientes.
É bom lembrar que só temos esse calendário porque o governador de São Paulo, João Dória, hoje um dos principais adversários políticos de Bolsonaro na eleição de 2022, anunciou que dia 25 deste mês disponibilizaria a CoronaVac aos paulistas. Para impedir que a foto da primeira vacina seja com o Dória, mandou o Pazuello elaborar esse projeto às pressas.
O governador Wilson Lima é outro que precisa ser responsabilizado pelas mortes em seu estado ao lado de Bolsonaro e Pazuello. Aparece na frente da televisão fazendo cara de desesperado, mas está sendo investigado pela Operação Sangria da Polícia Federal, deflagrada no final de junho do ano passado, por supostas fraudes e desvios na compra de respiradores, com dispensa de licitação, de uma importadora de vinhos. Ele chegou a ser alvo de busca e apreensão e ter os seus bens bloqueados.
Também devem entrar no rol de culpados os deputados Eduardo Bolsonaro, Bia Kicis, Carla Zambelli, Daniel Silveira e outros negacionistas que, por meio das redes sociais, estimularam e comemoram os protestos de comerciantes contra os lockdown que o governador Wilson Lima havia proposto no final do ano justamente para tentar minimizar o caos na saúde que estamos vendo hoje.
O mais grave de tudo isso é que além das vítimas da covid-19, estão morrendo por falta de oxigênio em Manaus pessoas com outras comorbidades, além de 60 bebês prematuros, que serão transferidos para hospitais de São Paulo, numa verdadeira operação de guerra para salvá-los.
Se os governantes tivessem agido de forma séria e responsável, impondo o lockdown quando necessário, sem ceder a pressões de grupos, certamente essa situação não tinha chegado a esse ponto. Fica claro também que não houve planejamento e nem atenção por parte das secretarias de saúde do estado e do município, além, é claro, do Ministério da Saúde, em relação aos insumos e equipamentos hospitalares.
A escassez desse tipo de material é prova de negligência por parte dos responsáveis. O que estamos vendo em Manaus, que pode acontecer em outros pontos do país, não é um meteoro que cai sem ninguém prever. É falta de planejamento, responsabilidade e competência dos nossos governantes. Simples assim.