Nascido nos pampas gaúchos, Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, em 1874, aos 61 anos, publicava em jornais europeus anúncios prometendo prêmios aos inventores de algum método de conservar a carne, até que encontrou um: cozinhar no vapor. Criou com isso uma fábrica de carne em conserva de grande sucesso.
Era um inovador compulsivo já ligado no que chamamos hoje de inovação aberta com desafios lançados. Costumava ler os jornais das principais capitais do mundo e publicações de engenharia, finanças e manuais de produtos de alta tecnologia da época – locomotivas, motores a vapor, teares, fornos siderúrgicos, produtos químicos, aparelhos de precisão.
Era também um empreendedor serial. No dia 22 de junho de 1874, Mauá assistiu Dom Pedro II enviar mensagens ao Papa e à Rainha da Inglaterra, inaugurando as transmissões telegráficas entre o Brasil e o resto do mundo, utilizando o cabo submarino, em projeto capitaneado por ele. No início do século 19, entre a Inglaterra e o Brasil, uma carta e sua resposta demoravam cinco meses. Com o telégrafo, a comunicação passou a ser imediata antes do fim do século, uma mudança exponencial.
Vinte anos antes, em 25 de março de 1854 Mauá provocara outra revolução. Chamou à rua a população da cidade do Rio de Janeiro e mandou acender os lampiões. Era sua a empresa que pela primeira vez iluminava a cidade. Órfão de pai, Mauá começou a trabalhar com nove anos de idade na empresa comercial do tio no Rio de Janeiro. Aprendeu tudo, tornou-se depois o principal executivo e partiu para voo solo.
A fuga de Dom João VI para o Brasil em 1808, provocada pelas incursões de Napoleão em Portugal, foi escoltada por navios ingleses. A partir daí a Inglaterra teve uma forte atuação na economia local. Mauá percebeu as oportunidades, aprendeu a falar fluentemente a língua e criou pelo menos 17 empresas instaladas em 6 países com sócios ingleses, franceses, norte-americanos e brasileiros. Entre elas: bancos no Brasil, Uruguai, Argentina, Estados Unidos, Inglaterra e França; estaleiros no Brasil e no Uruguai; três estradas de ferro no interior do Brasil; a maior fábrica do país, uma fundição que ocupava setecentos operários; uma grande companhia de navegação; empresas de comércio exterior; mineradoras; usinas de gás; fazendas de criação de gado; fábricas variadas. Das indústrias saiam inovações: engenhos de açúcar movidos a vapor; pontes de ferro; canhões para os navios de guerra; navios a vapor completos; fornos siderúrgicos e bombas de sucção.
Em 1867, o valor dos seus ativos era 20% maior que o orçamento do Império. Mas sua vida de empresário não foi fácil. Travou grandes embates com dom Pedro II e seus ministros e perdeu vários. Pedro II também gostava de novidades. Estudou mais de uma dezena de línguas(do tupi ao sânscrito), conhecia paleontologia, estudava matemática, física e química e correspondia-se com sábios de muitos países. Mas a semelhança acabava aí. Seu interesse era teórico e Mauá era um empreendedor. Mas com isso gerava muito ciúme e inveja. O lucro era um problema. A filosofia da livre iniciativa que mudava o mundo não chegara por aqui. Enquanto a elite brasileira odiava as ousadias do barão, paparicava estrangeiros com as mesmas ideias.
Com a perseguição e arbitrariedades por parte de vários membros de diversos governos, no fim da vida ele era um homem rico, mas tinha perdido quase todos os negócios, deixara de ser aquele que chegou a pensar em resolver os problemas do país por sua própria conta, mas deixava um legado inestimável de empreendimentos. Inovação, ousadia, parcerias, empreendedorismo e globalização foram características das ações do Barão de Mauá, muito bem retratadas no livro ”Mauá, empresário do império” de Jorge Caldeira, e que não diferem das características necessárias aos empreendedores de hoje.