Atlanta, referência histórica no Sul dos Estados Unidos da escravidão, sempre foi cartada contada de eleição de descendentes que reproduziam, mesmo com algumas atenuações, o racismo de seus antepassados. Ali, o eleitorado negro, embora crescente, era descrente dessa histórica predominância do voto de uma maioria branca, também em crise sobre seus valores.
Na eleição presidencial, a vitória de Joe Biden em Atlanta, mesmo com um resultado apertado, foi uma surpresa no cenário americano. Os eleitos negros, mobilizados por lideranças pro ativas, fizeram a diferença. Doeu tanto que o estado, com todas as instâncias comandadas por republicanos, virou o alvo central de Donald Trump para tentar melar as eleições que perdeu no voto popular e no colégio eleitoral.
Trump perdeu lá e os eleitores de Atlanta são decisivos para sepultar de vez o seu obscurantismo. Coube a eles decidir a maioria no Senado, com uma eleição em segundo turno de seus dois senadores. O eleitor que põe e dispõe pôs os republicanos no escanteio. Os democratas levaram as duas cadeiras. A vitória do pastor Raphael Warnock, sucessor de Martin Luther King, é favas contadas. Pelo cantar das urnas, o novato democrata John Ossoff vai levar sobre o veterano republicano David Perdue. Somando e dividindo tudo, o racismo e o trumpismo tomaram uma tunda.
Como na eleição de Joe Biden, foi uma apuração emocionante, com reviravoltas. A imprensa brasileira, em um injustificável comportamento burocrático, meio que ignorou a marcha das apurações, com todos os impactos que esses resultados vão produzir aqui. Tive que acompanhar pelo site do New York Times, que vergonha, né.
A Globo, por exemplo, que deu um show na cobertura da vitória, passou batida nessa disputa que equivale a um segundo turno na eleição presidencial americana. Essa eleição lá em Atlanta desse dois senadores com certeza vai repercutir aqui, governado por Bolsonaro negacionista igual Trump .