Uma corrente formada por grupos dos partidos de esquerda, liderados pela esquerda do PT, quer embaralhar o tabuleiro da disputa pela presidência da Câmara dos Deputados. Mesmo sem chance de vencer, mas podendo ser o fiel da balança com sua ausência em uma e outra chapa, este feixe de minorias está se preparando para incomodar. O objetivo seria o “mostrar as garras da esquerda”.
Um dos principais líderes do grupo, o ex-deputado José Genoíno (PT-SP) sai à frente com a tese tática: “Se a esquerda não mostrar os dentes, a direita não tem medo da mordida”. Para dar certo, esta tática precisará reverter decisão do bancada do PT, que já decidiu apoiar o deputado Baleia Rossi (MDB), candidato do atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM).
Derrotados no diretório do PT, apoiados por frações de partidos aliados e de bancadas completas de pequenos, como Psol, Rede, PCdoB, por exemplo, os petistas inconformados vão à luta, esgrimindo um retorno às origens da história parlamentar da agremiação. Em sucessivas entrevistas à mídia paulista, na condição de ser uma das maiores expressões deste grupo, José Genoíno (lembrando que, em São Paulo, ele disputou o segundo turno para o governo do Estado contra o tucano Geraldo Alckmin em 2002), está conduzindo no sentido de restabelecer o projeto do 5º Encontro, de 1987, quando o seu partido optou pela luta solitária, mantendo-se fora das alianças das agremiações derivadas do antigo MDB nos tempos do bipartidarismo.
Genoíno manobra no sentido de criar um fato político. O objetivo tático é ocupar espaços na mídia e no debate político, para sinalizar às bases petistas e dos aliados de que não concordam com os acordões. Com 124 votos deste grupo, nenhum dos outros dois contendores, Centrão e composição multipartidária de Rodrigo Maia, têm condições de vencer na primeira votação. “Então, no segundo turno negociamos”, disse Genoíno numa entrevista.
Este grupo, entretanto, não tem a totalidade da esquerda, que procura um acordo com algum dos grupos competitivos, com objetivo de ter posições na mesa, nas comissões e relatorias importantes. Esta composição majoritária nas direções partidárias, também capitaneada pelo PT com a participação de demais bancadas da esquerda, seria um primeiro passo para a formação da Frente Ampla, tida como futura aliança para fazer frente ao presidente Jair Bolsonaro em seu projeto de reeleição.
A corrente de Genoíno não concorda com tal frentão. Aí há grande divergência. Semanas de tensão, com jogadas para a torcida e manobras por debaixo do pano. O prazo para o fim da novela é 1º de fevereiro. Até lá, muita chispa vai sair dessa fricção. Nada de novo nas esquerdas. Brigam, brigam, mas na hora do vamos ver se juntam.