Depois dos recuos no ajuste, o Império contra-ataca

Ilan Goldfajn e Henrique Meirelles. Foto Orlando Brito

À primeira vista, a correlação de forças no governo Temer, que deve se tornar efetivo no fim do mês, opõe PMDB e PSDB em função de projetos de poder para 2018, e confronta esses partidos com o Centrão, criado à sombra de Eduardo Cunha, na disputa pelo comando no Legislativo. Mas já ficou claro que a briga essencial e definitiva desse governo, aquela cuja administração resultará em seu sucesso ou fracasso, começou a ser travada no terreno da economia, e reedita aquele conflito antigo dos anos 90 entre ortodoxos e desenvolvimentistas.

No momento, a ponta desse iceberg são as divergências públicas entre a área política, com suas seguidas concessões a setores diversos na área dos gastos públicos, e a equipe econômica e sua defesa de um ajuste fiscal rigoroso.

Michel Temer, em tese, está na coluna do meio arbitrando conflitos quase diários. Mas é bom lembrar que ele é, acima de tudo, um político – colocado pelo Congresso no Planalto, onde está cercado de políticos, que ocupam os principais cargos.

Talvez por isso, nas últimas semanas os políticos venceram todas. A última derrota, a retirada do limite para reajuste do funcionalismo estadual do projeto de renegociação das dívidas, foi negada veemente pelo comandante da equipe, Henrique Meirelles – que, aparentemente, está aprendendo a ser político, embora não possa abandonar suas raízes. Mas o episódio, no fundo, assustou a equipe de Meirelles, empresários e agentes econômicos. Nesse andor, fica difícil recuperar a confiança que, segundo seus planos, vai trazer de volta os investimentos e a recuperação da economia.

Meirelles, que depois de ter seu nome guindado ao cenário presidencial de 2018 virou vidraça, está quieto. Mas o fim de semana trouxe forte reação dos setores fiscalistas- ortodoxos. A primeira delas, uma dura entrevista do até então discretíssimo presidente do BC, Ilan Goldfajn à Folha, que não poderia ter sido mais claro no puxão de orelhas: “Todos são a favor do fiscal, mas cada um cuida do seu”, criticou ele, afirmando que a defesa de interesses particulares trava o esforço do governo para arrumar as contas públicas.

Ilan não daria essa entrevista sem combinar com Meirelles, sabe todo mundo. Da mesma forma, um dos maiores empresários do país, Abilio Diniz, não terá saído sozinho defendendo o aumento de impostos – inclusive a recriação da CPMF – se não estivesse em sintonia com a equipe econômica. Chegou a dizer que “não subir imposto é contra o país”, antecipando o que Meirelles (e talvez até Temer) estejam querendo mas estariam sem coragem de defender abertamente em função das resistências do empresariado e da própria sociedade.

Depois de algumas batalhas perdidas nesses três meses para as tropas intergalácticas do PMDB e seus aliados no Congresso, o império ortodoxo contra-ataca. Mas o final ainda não está decidido.

 

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